quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Refúgio Chileno

O dia começou com a melhor notícia do mundo. A minha Mamí vai ter alta hoje às 15h00. Deduzo portanto que não existem complicações com o tratamento da tubercuose e que tudo se está a encaminhar pelo melhor.

Hoje passaremos o dia no Refúgio Chileno. Este refúgio fica junto à Baía Pêndulo onde se localizava a base chilena. Esta base foi destruída há algumas décadas por uma erupção vulcânica e o que, actualmente, resta dela são um monte de destroços de madeira e ferros. A cerca de 1km desta base situa-se o refúgio chileno que, apesar de também ter sido afectado pela erupção, se encontra ainda de pé e que quando fazemos trabalho nesta área nos serve de abrigo.

A Baía Pêndulo situa-se no lado oposto das bases Espanhola e Argentina. A maneira mais rápida e simples de lá chegar é de Zoddiac e o dia eleito para fazer trabalho nessas áreas depende, sempre, de como está o vento, que determina, como estará o mar dentro da baía de Porto Foster. Apesar de o dia ameaçar chuva e de mesmo de manhã estar a chuviscar, como não há muito vento arriscamos fazer o trabalho no Refúgio Chileno. Para o Refúgio vou eu, o Gonçalo, o Mário, o Horácio e o Ernesto e somos conduzidos na Zoddiac pelo Carlos e pelo Juan que nos deixam ai para passarmos todo o dia e dizem que, se não dissermos nada em contrário, nos vêm a buscar às 17h00.

Logo quando chegamos à praia temos à nossa espera, para nos dar as boas vindas, uma foca de Weddel bem dorminhoca.


Entretanto dividimo-nos em duas equipas de trabalho. O Mário e o Gonçalo farão o levantamento topográfico da área, enquanto eu, o Horácio e o Ernesto realizaremos as sondagens verticais geofísicas com o método Schlumberger. Depois de 2h00 de trabalho aparecem o Juan, o Carlos e o António, que regressam ao Refúgio para que o António possa mudar a bateria da estação sísmica que tem no refúgio chileno. Para já o António avisa-nos para termos cuidado com os cabos e as baterias que estão por ali e diz-nos ainda que todos os nossos movimentos ficarão registados no sismógrafo. O problema é que após 2h30 de trabalho começa a chover a potes e temos de nos meter todos debaixo do refúgio. Parece que é sina. Já o ano passado quando fizemos trabalho nesta área apanhamos uma grande molha e tivemos dificuldades a acabar o que tínhamos começado. Aproveitamos esta pausa forçada para comer e para ver se nos conseguimos molhar o menos possível. A questão é que o Refúgio está velho e sem manutenção (não sei mesmo se não é um daqueles sítios históricos que não pode ser recuperado) e por isso como as madeiras já estão muito afastadas acabamos por estar sempre a levar com pingas grossas em cima. De qualquer forma esperamos a ver se melhora. Depois de 1h00 ali parado, o Mário e o Ernesto decidem ir a Pêndulo ver o que sobra da Base Chilena uma vez que nunca estiveram por ali. Enquanto isso, eu, o Horácio e o Gonçalo mantemos-nos pelo Refugio. E é nesta espera que o inesperado acontece!

O Horácio a cerca altura decide vir para fora do Refugio para o lado oposto de onde soprava o vento e acaba por dizer, pela janela, que se está melhor fora do que dentro, uma vez que o vento entra directamente pela porta e sai pela janela provocando uma corrente de ar no interior. Eu ouvindo isto decido sair a correr e é nesse momento que, inesperadamente, ao tentar sair a correr pela porta bato com a cabeça, e como num desenho animado, fico suspensa no ar e sem nenhum apoio voo e caiu para trás. O Gonçalo, que também estava dentro do refugio, pergunta-me se está tudo bem e nesse momento a primeira coisa que tento fazer é saber se sinto todas as extremidades do corpo. OK. Sinto tudo. Respondo-lhe que estou bem e lentamente vou-me levantando. Tudo OK. Começamos os 2 a rir desalmadamente apesar do latejar e dor enorme que sinto na cabeça. É que eu só consigo pensar como deve ter sido ver este voo. Isto era digno de um filme antárctico. Entretanto o Horácio apercebe-se e começa a tirar fotos.


Depois das primeiras rizadas e quando finalmente me ponho de pé, o Gonçalo vê-me a cabeça e diz que sim que está vermelha e que tem uma pontinha de sangue. Bom saiu calmamente para o exterior. Apanho ar. Faço os primeiros testes… não estou tonta, não me sinto enjoada, não tenho vontade de vomitar, não perdi os sentido, lembro-me de tudo e por último testo o equilíbrio e tudo OK. Volto para dentro para ver se arranjo algo mais frio para por na cabeça a ver se não fico com um grande galo. Bom, uma lata de cerveja e as minhas mãos, que neste momento estão geladas, é o que tenho.

Depois de quase 3h00 ao ar livre à espera que pare de chover lá tentamos recomeçar a topografia e os perfis de geoeléctrica. Depois de mais 1h00 de chuviscos aparece um sol espectacular e parece que toda a ilha está a renascer das brumas, uma vez que a evaporação é enorme neste momento. É inacreditável como tão pouco calor faz com que se produza tanta evaporação em menos de nada.

Como o fim de tarde se está a por espectacular, chamamos por rádio para a base para que não nos venham buscar, que quando tivermos pronto telefonamos. E assim, nas últimas 3 horas do dia fazemos todo o trabalho possível de um dia até que às 19h00 o Juan e Carlos voltam para nos reconher.


Depois quando finalmente chegamos à base o Brujo vê-me a cabeça e faz-me as prguntas do custume… Não, não vomitei, não perdi os sentidos, não vi estrelas, não perdi o conhecimento, nem o equilíbrio. Janto. Estávamos esfomeados. Mais uma dose de 10 minutos de gelo na cabeça. Eu e o Horácio vamos para a sala ele ver televisão eu ler. Depois de 10 minutos adormeço no sofá e só acordada, não sei quanto tempo depois pelo César. Bom hora de ir dormir para a cama. Até amanhã.

Sem comentários:

Enviar um comentário