sábado, 31 de janeiro de 2009

Dia de San Juan Bosco!

Hoje depois do pequeno-almoço tivemos na base argentina uma pequena aula sobre incêndios e como agir e reagir em caso de ocorrer um. Para além de conhecimentos básicos sobre manuseio e tipos de extintores, modos correctos de apagar fogos e tipos de fogos, ficámos ainda a conhecer as funções de cada um num caso de incêndio real.

Como esta aula nos consumiu metade da manhã decidimos, não ir agora para o campo, mas ficar pelo laboratório a programar os sensores de temperatura do ar e do solo que, assim, já poderemos instalar pela tarde. Para além da programação dos sensores acabamos de preparar os 2 tubos de 80 cm que colocaremos, nos próximos dias, no collado do Irizar, onde já instalámos o novo sítio CALM-S.

Depois de almoço, e desta vez acompanhados pelo Miguel Angél, fomos novamente trabalhar para as vertentes do rio Mecón. Enquanto o Mário, o Horácio e o Ernesto fixavam os 2 suportes dos sensores de temperatura do ar, que faltavam colocar na margem esquerda do Mecón, eu, com a ajuda do Miguel Angél, coloquei 5 dos 6 sensores de temperatura do ar nos seus respectivos suportes. Quanto aos sensores de temperatura do solo esses ainda ficaram a secar no laboratório e por isso só serão colocados no campo durante a próxima semana.

Desta forma, e com os suportes dos sensores de temperatura todos instalados, à excepção de um que terá de ser melhorado, porque a corda que temos é de má qualidade, às 17h30 dirigimo‑nos para a base espanhola, mas hoje não só para ver os e-mail, mas também para comemorar o dia dos especialistas. Hoje é o dia do padroeiro (San Juan Bosco) dos especialistas do exército espanhol. Como especialistas entendem-se os electricistas, mecânicos, montanheiros, canalizadores, cozinheiros, etc.


Para a comemoração desta data serão efectuadas várias provas desportivas de convívio para as quais nós e alguns militares argentinos fomos convidados. O plano das festas consistiu em provas de saltos embolsados a pares, tensão da corda, corrida de colheres com porcas e lançamento de uma vara.


Depois de muito convívio, risadas e quedas foi altura do churrasco. Hoje o jantar será servido no exterior e apesar dos -4ºC que se fazem sentir ninguém desmobiliza da frente do assador. Para além de coelho, vaca e porco assado, são ainda servidas lagostas, santolas e diversos tipos de salada de mexilhões. Para mim que ando a sofrer com a falta de peixe, na base argentina, este repasto de marisco vem mesmo a calhar. Assim, para além de uma perna de coelho assada limito-me a comer lagosta, santolas e saladas de mexilhões com pão.


Depois de toda esta comida e quando praticamente não sentimos mais as mãos nem os pés decidimos que é hora de começar com a “Discotuerca”, uma maneira simpática de chamar à discoteca que se monta na oficina e um trocadilho pois tuerca em espanhol significa porca das que se usam nos parafusos. Como é Sábado à noite a “Discotuerca” prolonga-se até à 1h00 da manhã quando o Fernando (chefe de base espanhol) decide acabar com o bailarico que ia tão animado.L Entretanto ainda aproveitamos para cantar os Parabéns a uma das investigadoras galegas que está por cá a trabalhar em estudos intermareais e enquanto os espanhóis recolhem à cama nós (os argentinos) pomo-nos nos carros a caminho de casa. Que grande tarde e noite de comemorações e que grande festa a fazer recordar os velhos boliches do ano passado na base espanhola.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Sensores de temperatura do ar

Hoje pela manhã enquanto eu e o Horácio fomos a Crater Lake fazer os testes, que nos indicaram de Lisboa, com o equipamento de monitorização da geofísica, o Mário e o Ernesto começaram a montar o suporte dos sensores de temperatura do ar nos vertentes do vale do rio Mecón.

Após termos feito todos os testes no equipamento de geofísica, descemos para ajudar o Mário e o Ernesto com a montagem dos suportes dos sensores de temperatura. Infelizmente a Hilti com que trabalhamos ficou sem bateria e por isso decidimos chamar mais cedo para a base para que nos viessem buscar. O Victor foi supersónico. Acreditávamos que ia demorar algum tempo e por isso decidimos começar a abrir os buracos para os restantes sensores de temperatura. Infelizmente, não tivemos muito tempo, pois ainda há poucos minutos tínhamos mudado de lugar e já estávamos a ver o quadriciclo a entrar no vale do Mecón.

Depois de mais um êxito rotundo do Javier à hora de almoço e de um pequeno descanso no sofá enquanto esperávamos que a bateria da Hilti carregasse, foi altura de voltarmos para o Mecón para terminar o trabalho que tínhamos começado de manhã. Mas desta vez não fomos só os 4, o Brujo decidiu acompanhar-nos para que não nos faltasse mate durante o horário de trabalho. O tempo estava espectacular, apesar de não haver sol, também não havia nem vento nem chuva e por isso o trabalho fez-se rapidamente. Assim, por volta das 18h00 e com 4 dos 6 suportes de sensores colocados foi altura de irmos à base espanhola, ver e enviar e-mail’s.


Após tudo concluído na base espanhola, ainda faltava ir medir a espessura da camada activa a Cerro de la Cruz. Visivelmente ninguém tinha vontade de o ir fazer e por isso com o simples jogo de pedra, papel e tesoura tirámos à sorte quais seriam os dois que iriam efectuar a medição. Por azar saiu-me a mim e ao Ernesto e pronto lá fomos os 2 até ao cimo do Cerro de la Cruz fazer as medições, que terminámos às 21h00, mesmo a horas de vir para jantar na base argentina.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Despedida do Gonçalo

Depois do dia de ontem em que estivemos cerca de 9h00 no campo, hoje de manhã tanto eu, como o Mário, o Horácio e o Ernesto estávamos simplesmente mortos de cansaço. Para além do acumular de trabalho de duas semanas sem descanso, o corpo ressentia-se do esforço de ontem e os músculos das costas acabam por fazer as suas queixas.

O Gonçalo ao que parece afinal sai hoje de Deception de volta a Livingsto, no Las Palmas. Inicialmente estava para sair só no dia 30 ou 31, mas nestes últimos três dias já esteve para sair a 27 e a 28 e por final acabará por sair hoje. Assim, enquanto ele de manhã aproveita para arrumar as suas coisas, eu e o Mário pomos o e-mail em dia para o irmos enviar à base espanhola e o Ernesto e o Horácio aproveitam para descansar e para ajudar aqui por casa.

Por volta das 11h30 eu e o Mário fomos à base espanhola, para verificar com o Gonçalo a configuração dos sensores de temperatura do solo e do ar, que instalaremos nos próximos dias ao longo do rio Mecón, na base argentina e também no Irizar. Para além disso aproveitamos para por as comunicações em dia e para ver se recebemos respostas de Portugal relativamente à questão da geofísica. Por volta das 13h00 voltamos à base argentina para almoçar uma vez que, depois de almoço, regressaremos à base espanhola para ir buscar a caixa com material de trabalho que o Gonçalo nos deixa.

Assim, depois de almoço, por volta das 16h00, vamos para a base espanhola para ir buscar a caixa de material do projecto e para nos despedirmos do Gonçalo. Entretanto sente-se um grande reboliço na base espanhola. Dois dos militares e um dos investigadores vão de passeio no Las Palmas nos próximos 5 dias. O Las Palmas sai hoje de Deception, vai a Livingston e a Byers deixar investigadores e depois segue para o continente para ir buscar outros investigadores. Como existem 3 camas livres o comandante do Las Palmas convida quem quiser, dos militares e dos investigadores, a irem nesta pequena viagem ao continente. Entre os investigadores só um tem disponibilidade, uma vez que, como o seu trabalho depende da maré mais baixa, só terá trabalho dia 8 de Fevereiro. Entre os militares o Fernando (chefe da base espanhola) decide sortear 2 lugares. Por sorte irão de passeio o Hector e o Pedro, que neste momento andam numa verdadeira euforia. Despedem-se de todos como se não fossem voltar, e apesar de lhes dizermos que nos vemos em 5 dias despedem-se, com fortes beijos e abraços, de todos os investigadores e militares que ficam na base. A suas caras de felicidade são visíveis e todos estamos muito contentes por os ver tão contentes.


Neste momento de despedida só tenho a dizer que foi um enorme prazer poder, finalmente, trabalhar com o Gonçalo, in loco na Antárctida, e poder compartir estes momentos que ambos já vivemos separadamente e que nos fazem tentar levar, sempre avante, este sonho de tornar cada vez melhor e maior a investigação antárctica portuguesa. Ao Gonçalo, por estes momentos de aprendizagem e amizade, compartidos nestes dias, o meu mais sincero obrigado. Vemo-nos, de volta, dentro de um mês em Lisboa.


Ao Hector e ao Pedro, que tenham um mar excelente para que possam aproveitar ao máximo este momento de descontracção, com que a sorte os brindou, e que possam ver muitos iceberg, focas e baleias, e que tirem muitas fotos para depois nos mostrarem. Acima de tudo que se divirtam!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Refúgio Chileno

O dia começou com a melhor notícia do mundo. A minha Mamí vai ter alta hoje às 15h00. Deduzo portanto que não existem complicações com o tratamento da tubercuose e que tudo se está a encaminhar pelo melhor.

Hoje passaremos o dia no Refúgio Chileno. Este refúgio fica junto à Baía Pêndulo onde se localizava a base chilena. Esta base foi destruída há algumas décadas por uma erupção vulcânica e o que, actualmente, resta dela são um monte de destroços de madeira e ferros. A cerca de 1km desta base situa-se o refúgio chileno que, apesar de também ter sido afectado pela erupção, se encontra ainda de pé e que quando fazemos trabalho nesta área nos serve de abrigo.

A Baía Pêndulo situa-se no lado oposto das bases Espanhola e Argentina. A maneira mais rápida e simples de lá chegar é de Zoddiac e o dia eleito para fazer trabalho nessas áreas depende, sempre, de como está o vento, que determina, como estará o mar dentro da baía de Porto Foster. Apesar de o dia ameaçar chuva e de mesmo de manhã estar a chuviscar, como não há muito vento arriscamos fazer o trabalho no Refúgio Chileno. Para o Refúgio vou eu, o Gonçalo, o Mário, o Horácio e o Ernesto e somos conduzidos na Zoddiac pelo Carlos e pelo Juan que nos deixam ai para passarmos todo o dia e dizem que, se não dissermos nada em contrário, nos vêm a buscar às 17h00.

Logo quando chegamos à praia temos à nossa espera, para nos dar as boas vindas, uma foca de Weddel bem dorminhoca.


Entretanto dividimo-nos em duas equipas de trabalho. O Mário e o Gonçalo farão o levantamento topográfico da área, enquanto eu, o Horácio e o Ernesto realizaremos as sondagens verticais geofísicas com o método Schlumberger. Depois de 2h00 de trabalho aparecem o Juan, o Carlos e o António, que regressam ao Refúgio para que o António possa mudar a bateria da estação sísmica que tem no refúgio chileno. Para já o António avisa-nos para termos cuidado com os cabos e as baterias que estão por ali e diz-nos ainda que todos os nossos movimentos ficarão registados no sismógrafo. O problema é que após 2h30 de trabalho começa a chover a potes e temos de nos meter todos debaixo do refúgio. Parece que é sina. Já o ano passado quando fizemos trabalho nesta área apanhamos uma grande molha e tivemos dificuldades a acabar o que tínhamos começado. Aproveitamos esta pausa forçada para comer e para ver se nos conseguimos molhar o menos possível. A questão é que o Refúgio está velho e sem manutenção (não sei mesmo se não é um daqueles sítios históricos que não pode ser recuperado) e por isso como as madeiras já estão muito afastadas acabamos por estar sempre a levar com pingas grossas em cima. De qualquer forma esperamos a ver se melhora. Depois de 1h00 ali parado, o Mário e o Ernesto decidem ir a Pêndulo ver o que sobra da Base Chilena uma vez que nunca estiveram por ali. Enquanto isso, eu, o Horácio e o Gonçalo mantemos-nos pelo Refugio. E é nesta espera que o inesperado acontece!

O Horácio a cerca altura decide vir para fora do Refugio para o lado oposto de onde soprava o vento e acaba por dizer, pela janela, que se está melhor fora do que dentro, uma vez que o vento entra directamente pela porta e sai pela janela provocando uma corrente de ar no interior. Eu ouvindo isto decido sair a correr e é nesse momento que, inesperadamente, ao tentar sair a correr pela porta bato com a cabeça, e como num desenho animado, fico suspensa no ar e sem nenhum apoio voo e caiu para trás. O Gonçalo, que também estava dentro do refugio, pergunta-me se está tudo bem e nesse momento a primeira coisa que tento fazer é saber se sinto todas as extremidades do corpo. OK. Sinto tudo. Respondo-lhe que estou bem e lentamente vou-me levantando. Tudo OK. Começamos os 2 a rir desalmadamente apesar do latejar e dor enorme que sinto na cabeça. É que eu só consigo pensar como deve ter sido ver este voo. Isto era digno de um filme antárctico. Entretanto o Horácio apercebe-se e começa a tirar fotos.


Depois das primeiras rizadas e quando finalmente me ponho de pé, o Gonçalo vê-me a cabeça e diz que sim que está vermelha e que tem uma pontinha de sangue. Bom saiu calmamente para o exterior. Apanho ar. Faço os primeiros testes… não estou tonta, não me sinto enjoada, não tenho vontade de vomitar, não perdi os sentido, lembro-me de tudo e por último testo o equilíbrio e tudo OK. Volto para dentro para ver se arranjo algo mais frio para por na cabeça a ver se não fico com um grande galo. Bom, uma lata de cerveja e as minhas mãos, que neste momento estão geladas, é o que tenho.

Depois de quase 3h00 ao ar livre à espera que pare de chover lá tentamos recomeçar a topografia e os perfis de geoeléctrica. Depois de mais 1h00 de chuviscos aparece um sol espectacular e parece que toda a ilha está a renascer das brumas, uma vez que a evaporação é enorme neste momento. É inacreditável como tão pouco calor faz com que se produza tanta evaporação em menos de nada.

Como o fim de tarde se está a por espectacular, chamamos por rádio para a base para que não nos venham buscar, que quando tivermos pronto telefonamos. E assim, nas últimas 3 horas do dia fazemos todo o trabalho possível de um dia até que às 19h00 o Juan e Carlos voltam para nos reconher.


Depois quando finalmente chegamos à base o Brujo vê-me a cabeça e faz-me as prguntas do custume… Não, não vomitei, não perdi os sentidos, não vi estrelas, não perdi o conhecimento, nem o equilíbrio. Janto. Estávamos esfomeados. Mais uma dose de 10 minutos de gelo na cabeça. Eu e o Horácio vamos para a sala ele ver televisão eu ler. Depois de 10 minutos adormeço no sofá e só acordada, não sei quanto tempo depois pelo César. Bom hora de ir dormir para a cama. Até amanhã.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

1º Dia sem fotos

Hoje o tempo e a geofísica mudaram-nos os planos. Tínhamos planeado ir para o campo logo de manhã mas, como chovia bastante, o Mário esteve na base espanhola com o Gonçalo, a ajudar a preparar os postos de monitorização da temperatura do ar que, mais para o final da semana, instalaremos ao longo do rio Mecón.

Por outro lado eu fiquei com o Horácio, na base argentina, a solucionar problemas relacionados com a geofísica. Enquanto eu li os manuais do programa Geotest e do equipamento HP da monitorização, a ver se descobria algum ponto que me pudesse ajudar a solucionar o erro que nos está a aparecer quando tentamos verificar as resistências de contacto dos eléctrodos, o Horácio ficou a fazer 2 cabos que, por lapso, não foram enviados de Portugal com o equipamento. Para além da leitura dos manuais aproveitei para rever o processo de aquisição de dados da geofísica com o equipamento que utilizámos o ano passado aqui na Antárctida.

Depois de almoço tentei ligar para a minha mãe a ver como tinha passado a noite uma vez que era a primeira noite de tratamento. Como não me atendeu, e fiquei preocupada, liguei para o meu pai que me fez um ponto da situação. Parece que passou mal a noite, mas porque teve umas dores e algum médico iluminado lhe deu um dos comprimidos a que é alérgica. Parece que acordou a meio da noite vermelha e com borbulhas, mas o mais grave é que também com falta de ar. Parece que a reacção alérgica não está relacionada com nenhum medicamento utilizado no tratamento da tuberculose, mas sim com esse tal medicamento que lhe administraram para as dores.

Depois do telefonema eu e o Horácio fomos até à base espanhola. Eu precisava por os assuntos da geofísica em dia e o Horácio precisava ver se soluciona a questão do seu regresso e do Ernesto no final da campanha.

Entretanto quando chegámos à base espanhola o Gonçalo e o Mário tinham acabado de chegar de Crater Lake onde tinham estado, até às 16h00, debaixo de chuva a fazer o levantamento topográfico desta área onde temos instalado, desde há 2 anos, o sítio CALM-S.

Com a nossa chegada de quatriciclo (como chamam aos carros tipo os de golf que temos nas 2 bases para nos movimentarmos) o Mário aproveitou a boleia de regresso para a base argentina pois só tinha comido umas barras de cereais e estava todo molhado.

Depois de colocarmos os e-mail em ordem, eu e o Horácio, seguimos para Cerro de la Cruz para fazer a medição dos 6 locais de monitorização da camada activa. Mas apesar de no início das medições não estar a chover, estava bastante frio e nevoeiro. Contudo, a meio das medições começou a soprar um vento forte de Este acompanhado de uma chuva chata e de um nevoeiro fortíssimo. Terminámos as 6 medições e fomos directos à base para ver se conseguíamos não chegar muito molhados.

A todos os leitores deste blogue as minhas desculpas por não existirem fotos, mas hoje foi mais um dia de trabalho de escritório do que de campo, e como puderam ver em cima o pouco campo que tivemos estava mau de mais para tirar fotografias.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Continuação dos trabalhos

Antes de mais e já com 4 dias de atraso um grande beijinho de PARABÉNS ao meu grande amigo Márcio.

Hoje pela manhã ficámos pela base argentina a desempacotar todo o material da geofísica antigo, que este ano, e à semelhança do ano passado, voltaremos a usar em Deception. Os principais objectivos do uso deste equipamento são caracterizar o permafrost e ver a sua interacção com as anomalias geotérmicas. Assim, locais de estudo privilegiado serão o Cerro Caliente, o Cerro de la Cruz, o Refugio Chileno, as fumarolas e o Irizar. Depois de desempacotar o material foi altura de ler os manuais, do equipamento novo e do programa com que o configuro, para ver se consigo detectar alguma informação que nos ajude a solucionar o problema que temos neste momento.

À tarde fomos ter com o Gonçalo à base espanhola, e que hoje estava de Maria, e dai fomos os três para Crater Lake efectuar nova medição dos pontos da solifluxão, uma vez que é necessário fazer uma correcção às medições tomadas anteriormente. Pelo caminho, ao longo do vale do rio Mecón, fomos deixando algumas estacas que nos indicarão os locais em que, quando o Gonçalo se for embora, eu, o Mário, o Horácio e o Ernesto temos de montar as estações de medição da temperatura do ar e do solo à superfície.


Como ontem os militares da nossa base estiveram de serviço devido às comemorações do 61º aniversário da base, hoje para eles é como se fosse Domingo. E como passam quase toda a semana mais ou menos dentro da área da base, hoje aproveitaram para dar um passeio. E nós que estávamos no topo da vertente e os vimos acabamos por lhes tirar umas fotos!


Entretanto, em Crater Lake, enquanto o Mário e o Gonçalo fazem as medições dos pontos de solifluxão com a estação total, eu tento por a monitorização da geofísica a funcionar. Como, mais uma vez, não obtenho sucesso, vou ajudar o Miguel Angél com a caracterização geológica do material que sai da perfuração bem como com a sua amostragem.

Entretanto, hoje lá consegui ver o e-mail e saber novidades sobre o estado de saúde da minha mãe. Falei com ela Sábado e Domingo, mas só hoje consegui ver os e-mail’s do meu pai que me vão dando um ponto da situação do que se passa, uma vez que fazer chamadas mais longas do que 2 a 3 minutos é quase impossível com o nosso telefone de satélite. Pelo que li e percebi hoje, e apesar de não se ter ainda certeza do resultado da análise, começará a fazer o tratamento da tuberculose. O que mais me preocupa neste momento é que, como é alérgica a muitos medicamentos, ver como vai reagir e passar esta noite.

Bom agora que já se faz tarde, tenho de ir descansar pois a semana está a começar e para termos tudo terminado até o Gonçalo se ir embora no dia 30 ou 31 vamos ter muito trabalho pela frente.

domingo, 25 de janeiro de 2009

61º Aniversário da Base Antárctica Argentina Decepción

Hoje para além de ser Domingo, festejam-se os 61 anos da Base Antárctica Argentina Decepción. E por isso houve festa!

Contudo, apesar de ser Domingo e porque o dia está bom para o trabalho de campo o Gonçalo vem ter connosco à base argentina e subimos para trabalhar no Irizar. Enquanto o Gonçalo prepara a estação total para fazermos a medição dos pontos de solifluxão, eu e o Mário começamos a montar o sítio CALM-S. À semelhança do que temos no Crater Lake, desde há 2 anos, este sítio CALM será constituído por um quadrado de 100 por 100 metros, com estacas espaçadas de 10 em 10 metros. Posteriormente, serão colocadas outras experiencias dentro do sítio CALM como, por exemplo, sensores de medição da temperatura do ar e do solo a pequena profundidade.

Connosco até ao sítio CALM sobem o Ernesto e o Nikita que aproveitam para dar um passeio até à pinguineira, uma vez que, como hoje não haverá perfuração, estão de fim-de-semana. Entretanto quando estamos quase a acabar de definir o local das estacas do sítio CALM aparece o Horácio que ainda nos dá uma mão. Quando a estação total está pronta para iniciar a medição eu vou ajudar o Gonçalo e o Mário continua a colocar as estacas do sítio CALM, até que quando começo a deixar de sentir os dedos das mãos, trocamos. O Mário vem ajudar o Gonçalo e eu vou aquecer as mãos enquanto termino de espetar as estacas.

Entretanto quando finalizamos os trabalhos que há a realizar, hoje, no sítio CALM do Irizar, são horas de descer para a base uma vez que as comemorações começam às 17h00 em ponto. Acabamos por chegar à base quase em cima da hora da chegada dos nossos convidados, mas mesmo assim ainda temos tempo para comer uns pedaços de pizza que sobraram do almoço.

No exterior começam a chegar os nossos ilustres convidados, e vizinhos, da base espanhola que, no que respeita à dotação militar, e à semelhança da nossa, vêm também trajados a rigor. Aos cumprimentos do costume segue-se a saudação e discurso do nosso chefe de base e a fase da fotografia de família, primeiro exclusivamente da dotação militar argentina e depois de todos os habitantes durante a campanha 2008-2009 da Base Argentina Decepción. Assim, na fotografia seguinte, da esquerda para a direita e de baixo para cima temos:José, Javier, Brujo, Martin, Victor, César, Daniel, Sérgio, Miguel Angél, Rámon, Ariel, Horácio, Vanessa, Mário, Ernesto e Jorge.



Depois de toda esta parte formal, foi altura de cumprir com mais uma tradição naval e passar ao chocolate quente, biscoitos e bolos que o Javier tinha preparado e que como sempre estavam “Un exito!”.

Depois deste pequeno lanche foi altura de telefonar para Lisboa para falar com a minha Mamí e saber como é que tem passado e se está a melhorar. Por enquanto parece que não há muitas novidades uma vez que é fim-de-semana e só se saberá mais alguma coisa na segunda-feira.

Entretanto quase todos os nossos vizinhos espanhóis regressaram a casa, acabando por ficar alguns dos que vão jantar por cá, a jogar pingue-pongue e a deitar conversa fora. Apesar de nesta base ser a única rapariga este ano não noto esse isolamento uma vez que na base espanhola estão mais 5. Dessas destaco a Júlia (que é argentina!) e a Ana (cozinheira da base espanhola) com quem me tenho dado mais.

O jantar como sempre foi mais “Un êxito, rotundo!” do nosso Javier e desta vez com uma homenagem à comitiva portuguesa, preparada em simultâneo com o Horácio. Vejam lá se na foto conseguem ver as cores do prato que o Javier tem na mão? Será metade vermelho, metade verde e meio limão amarelo?



Depois de jantar e como não podia deixar de ser o Brujo brindou-nos com mais uma actuação mas desta vez vestido a rigor. De tantas que temos tido, existem pelo menos 3 músicas que já consigo cantarolar: a das ramblas, a do cabezudo e claro a do Burrito!

sábado, 24 de janeiro de 2009

Finalmente Sábado

Hoje, talvez por ser Sábado, e por estar um tempo péssimo com muita chuva e vento tudo foi mais calmo.

O Horácio e o Ernesto de manhã foram para Crater Lake para ajudar os russos na perfuração, o Mário ficou pela base argentina a escrever e eu fui até à base espanhola ver se tinha algum e‑mail do meu pai, com notícias da minha mãe, e aproveitei para enviar alguns e-mail que estão atrasadíssimos.

Quando o Horácio e o Ernesto desceram de Crater Lake, dirigimo-nos os 3 para a base argentina para almoçar. Eu como estive no módulo científico estou seca, mas eles os dois estão empapados. Depois de trocarem de roupa e de almoçarmos somos informados pela base espanhola que hoje durante a tarde não haverá perfuração uma vez que continua a chover muitíssimo. Assim, depois de almoço o Gonçalo e Miguel Angel vieram ter connosco à base argentina e trouxeram algumas estacas onde instalaremos sensores de temperatura do ar, bem como os sensores de temperatura do ar e do solo. Desta forma, passámos o resto da tarde a programar sensores de temperatura, a montar as cadeias de sensores que é para colocar enterrados dentro de tubos e a preparar outras coisas de que vamos necessitar nos próximos dias.

Entretanto estava quase na hora de jantar e o Gonçalo e o Miguel Angél estavam de saída, mas o Ariel apareceu e convidou-os para jantar de forma tão insistente que não tiveram como recusar. Acabaram por ficar para jantar e para mais uma actuação do Brujo, que, até ao momento, é claramente o ícone de animação da nossa base.


Hoje voltei a ligar para a minha mãe. Segundo me disse a quantidade de líquido no coração, desta vez, é muito menos que na vez anterior e por isso, em princípio, não será necessário fazer mais uma punção. Em princípio com medicamentos tratarão o caso. Bom falando com ela acabo por ficar mais tranquila, mas como só comprei um cartão de satélite de uma hora tenho de gerir bem os 39 minutos que ainda me restam até ao final da campanha.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Más notícias

Hoje pela manhã eu, o Mário e o Horácio subimos a Crater Lake para ver se terminávamos a instalação do equipamento de geofísica de monitorização da camada activa e para ajudar o Gonçalo com a instalação das estacas de monitorização da solifluxão e também com a aquisição da sua localização com a estação total.

O Ernesto já tinha ido mais cedo para a base espanhola, pois subiria com os russos, os quais tem estado a ajudar desde o primeiro dia na questão da perfuração.

Depois de devidamente acabada a instalação do equipamento de geofísica, foi altura de realizar um primeiro teste para ver se tudo estava a funcionar e para iniciar o processo de monitorização. Infelizmente o programa com que fazemos a preparação dos parâmetros de monitorização (Geotest), num dos passos deu um erro que não conseguimos solucionar.



Entretanto a perfuração que estamos a fazer com os russos também foi encerrada. Dos 3 russos que colaboram connosco, um é uma das mais altas entidades no mundo do permafrost, outro é geólogo e o outro é biólogo e estuda microbiologia. A eles para além de lhes interessar o tema do permafrost interessa-lhes muito mais colher amostras microbiológicas para ver se existem microorganismos congelados. O problema é que na primeira perfuração a partir dos 3 metros de profundidade não se conseguiam retirar amostra congeladas, parece que podemos estar perante a presença de permafrost seco ou da não existência de permafrost. Assim, após 6 metros de perfuração decidiu-se dar a perfuração por terminada e mudar de sítio. Conseguiram entubar-se 4 metros, nos quais se colocarão sensores de temperatura para estudar o permafrost.

Entretanto eu, o Mário, o Horácio, o Ernesto e o Gonçalo viemos almoçar à base argentina. Depois de almoço o Mário foi mostrar ao Gonçalo os 6 locais de monitorização da camada activa que temos em Cerro de la Cruz e daí seguiram para a base espanhola e depois para Crater Lake com a estação total. Entretanto eu fiquei a preparar o mail e as fotografias para enviar aos nossos colegas da geofísica em Lisboa, para que nos ajudem a solucionar o problema do equipamento de monitorização. O Horácio e o Ernesto aproveitaram para descansar um pouco e por volta das 15h30 já estávamos todos novamente na base espanhola para ir para Crater Lake. Eu aproveitei para enviar o mail rapidamente e pusemo-nos a caminho.

Em Crater Lake enquanto os russos transportavam o material para o local da nova perfuração e a começavam a montar, eu e o Horácio íamos montando as 3 linhas, com 10 estacas cada uma, para a monitorização da solifluxão. Depois de montadas as linhas o Gonçalo, o Mário e o Horácio começaram com as medições com a estação total, enquanto eu ajudava o Miguel Angel com a descrição e colheita de amostras de permafrost e de solo, dos testemunhos que iam saindo da perfuração. Neste momento estamos em Crater Lake 10 elementos da equipa, todos a trabalhar em distintas actividades, e claramente vê-se a confusão que isso gera.


Entretanto por volta das 19h30 foi altura para descer para a base espanhola para consultar os e‑mail até às 20h30, quando chegará alguém da base argentina para nos vir buscar.

Entretanto ao ver o e-mail chegam as más noticias. Antes de sair de Lisboa para a Antárctida a minha mãe tinha estado internada com um problema de coração durante 2 semanas. Quando sai já estava recuperada, mas ainda não se sabia o que tinha dado origem e por isso teria de repetir um ecocardiograma em breve. Parece que o repetiu hoje, e como ainda tem um pouco de líquido no coração (muito menos do que na 1ª vez) os médicos decidiram interna-la novamente. A notícia do internamento e do resultado do ecocardiograma chegaram-me por um e-mail enviado pelo meu pai à menos de 20 minutos. Apesar de em Lisboa serem quase 23h00 decido ligar directamente da base espanhola para saber mais novidades. O meu pai faz-me um ponto da situação que me deixa mais tranquila mas não descansada. Felizmente neste momento o apoio dos meus companheiros de equipa e do chefe de base espanhola foi excepcional.

Agora o que queria era telefonar à minha mãe a saber como está, mas é tarde para se ligar para alguém que está no hospital. Bom há que acalmar-me e ligar amanhã. Entretanto enquanto esperávamos pelo jantar aparece o Ernesto na sala a dizer que tenho uma chamada no telefone de satélite. Pânico! São 00h30 em Lisboa e já sei que tenho a minha mãe no hospital. Corro pelos corredores da base até ao laboratório. Finalmente quando chego ao telefone era a minha mãe. Agora mais descansada! Era ela a dizer que estava internada, que queria que eu soubesse por ela, para que eu ficasse tranquila porque ela está bem. Na realidade depois de 5 minutos de conversa (acho que foi a 1ª vez que o telefone aguentou uma chamada tão longa!) acho que as duas ficamos mais tranquilas, eu porque me pareceu que ela estava animada e ela porque percebeu que eu fiquei mais calma. Enfim vamos ver como correm os próximos dias e tentar esperar por mais notícias com tranquilidade. Daqui não posso fazer nada, em Lisboa para além de a acompanhar no internamento também não poderia fazer muito. Este é um dos tipos de situações para o qual mais me tentei preparar psicologicamente. Espero agora conseguir levar as coisas, por aqui, bem. Por agora mais tranquila, embora não despreocupada. Aqui na Antárctida há uma máxima que aprendemos todos aprendemos: “No News, Good News”. Porque como hoje se provou as más noticias voam.

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Instalação do equipamento de monitorização da geofísica

Hoje pela manhã eu, o Mário e o Horácio ficamos pelo laboratório da base. Eu fiquei a testar o equipamento de geofísica que instalaremos no sítio CALM-S do Crater Lake, e que tem como função ficar a monitorizar durante um ano o comportamento da camada activa. O Mário ficou a testar como se concretiza a montagem de todo o sistema de painéis solares que alimentarão a bateria que permite que a monitorização da geofísica se efectue. Enquanto isso o Horácio juntamente com o Martin (militar da base argentina) tratavam de preparar e soldar as estacas que utilizaremos como esticadores do sistema de ancoragem do painel solar.

Por volta do meio-dia o Horácio e o Mário foram a Cerro de la Cruz efectuar as medições da camada activa nos 6 locais que estamos a monitorizar desde o início da campanha. Enquanto isso eu juntamente com o Jorge (militar da base argentina) fomos de carro até à base espanhola levar o equipamento de geofísica que dai será transportado em moto-4 até ao cimo de Crater Lake.

Enquanto esperávamos que o Mário e o Horácio chegassem à base espanhola eu e o Gonçalo fomos colocando o mail em dia, bem como discutindo algumas questões da monitorização da geofísica e também de todo o trabalho que ainda temos para realizar nesta semana e meia em que o Gonçalo estará em Deception.

Assim, por volta das 13h00 quando chegaram o Mário e o Horácio, aproveitamos para almoçar, rapidamente, no módulo científico, da base espanhola, umas sandes e umas sopas pois às 14h00 o Hector e o Eduardo chegavam para nos ajudar a transportar o equipamento de geofísica para o topo de Crater Lake.

Logo ao princípio da tarde iniciámos em Crater Lake a instalação do equipamento de geofísica. O problema foi que após uma hora de trabalho começou a nevar muitíssimo e tivemos que começar a tentar terminar o que tínhamos iniciado. Assim, depois de instalados todos os eléctrodos, de conectados todos os cabos e de ancorado o suporte onde se colocarão os painéis solares decidimos descer para a base. Entretanto tinham passado cerca de 2 horas desde que tinha começado a nevar e estávamos claramente empapados. Eu e o Mário ainda fizemos uma paragem na base espanhola para nos aquecermos um pouco e tomar um chá, o Horácio seguiu de imediato para a base argentina, com o Ariel que, por acaso, estava na base espanhola já de saída. Quando chegámos à base argentina a paisagem tinha mudado completamente, tudo estava branco e as fotos ao final do dia (22h00) ficaram espectaculares.


Quando finalmente cheguei à base argentina fui de imediato para o banho. O problema é que entretanto começou a haver cortes de electricidade, e apesar de poder tomar banho com uma luz de emergência a pressão da água ia falhando uma vez que, tanto a pressão da água como o seu aquecimento são efectuados através de energia eléctrica. Por exemplo, o Martin que ia tomar banho de seguida esperou até à 1h00 da manhã para poder ir toma banho.

Acabámos por jantar com a luz do exterior, uma vez que aqui às 23h00 ainda é de dia. Desde que chegamos tem-se notado muitíssimo como os dias se estão a tornar mais curtos. Lembro‑me que quando chegámos há cerca de 2 semanas atrás até à 1h00 da manhã era mais ou menos dia e depois escurecia entre essa hora e as 2h30 quando começava novamente a clarear. Agora já se nota que por volta das 23h30 já começa a escurecer. Entretanto como o Daniel e o César (electricistas da base) foram conseguindo solucionar o problema, parcialmente, acabei por me ir deitar mas com o quarto gelado. É que nestas 4h00 que estivemos sem electricidade ou em que a íamos tendo pontualmente todas as divisões da base que têm aquecimento eléctrico foram arrefecendo. Nestas divisões incluem-se todos os quartos, as casas de banho, o laboratório e a carpintaria. Os únicos locais que são aquecidos por salamandras, alimentadas a madeira, são a sala de jantar e a sala de estar que estavam quentes e onde eu dizia que ia dormir caso não se soluciona-se a questão da electricidade!

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

Começa o trabalho duro!

O dia como sempre começou com o pequeno-almoço às 8h00 na base argentina. Cada dia parece que necessito de dormir mais. Hoje sai da cama às 7h54, depois de o despertador tocar uma série de vezes e de ter levado uns murros.

Depois do pequeno-almoço foi altura de nos arranjarmos e sairmos para a base espanhola. Os trabalhos em equipa começam hoje e há muito material da perfuração russa para levar para o topo de Crater Lake. Para isso teremos o apoio logístico dos militares da base espanhola em especial do Hector (técnico de comunicações) e do Eduardo (médico).

Assim, começamos por transportar nas motos, com um atrelado, todo o material desde a base, através do vale do rio Mecón, até ao início da vertente que sobe para Crater Lake. Daí cada uma das motos, individualmente, começa a transportar o material, aproveitando para subir também cada um dos 10 membros da equipa. Depois de todo o material no topo de Crater Lake, iniciam‑se os trabalhos de escolha do local da perfuração e da sua ancoragem e montagem. Depois de ancorada a perfuração, enquanto uns continuarão em Crater Lake a trabalhar, eu, o Gonçalo, o Mário e o Horácio descemos para ir almoçar à base argentina.



Durante a manhã o Horácio já havia transportado, para a base argentina, as minhas caixas e do Mário que, finalmente, ontem, sempre foram descarregadas do Las Palmas. Agora à hora de almoço, aproveitamos o transporte, para levar cerca de 120 estacas para a base argentina, uma vez que vamos precisar de algumas no Irizar que é mais perto desta base.

Depois de almoço subimos os 4 ao Irizar, com cerca de 30 estacas, mais a perfuradora da Hilti para começarmos a instalar os locais de solifluxão. Instalamos 3 linhas, com 10 estacas cada, ao longo da vertente com diferentes inclinações. Para além destas estacas colocamos 2 estacas de metal fixas no permafrost, de modo que estes sejam os pontos fixos da estação total.


Depois de uma manhã e uma tarde produtiva de trabalho, com um tempo bom para o trabalho de campo, lá voltámos para a base. Está na altura de descansar! Que hoje sim acho que tomo um banho, janto e vou directa para a cama!

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O Inverno chegou à Antárctida

Hoje o dia amanheceu feio, com muita neve e chuva, e como estamos à espera que chegue o Las Palmas onde vem o Gonçalo e o nosso equipamento decidimos passar a manhã pela base. Hoje estamos nos antípodas de ontem. Ontem tivemos talvez um dos melhores dias que eu vi nestas duas campanhas na Antárctida e hoje talvez um dos piores.

Por volta das 10h30 chamámos por rádio para a base espanhola para saber se já tinham baixado as pessoas que estavam a bordo. A resposta foi afirmativa, o problema é que como o tempo começou a piorar e o vento a aumentar muito, tiveram de terminar os trajectos pois havia o risco de uma zodiac virar e por isso 8 das nossas caixas de equipamento continuaram a bordo.

Depois de almoço e debaixo de uma neve e um vento que nos faziam quase voar pusemo-nos a caminho da base espanhola. O resto da equipa tinha chegado pela manhã e tínhamos de os ir cumprimentar e também reunirmo-nos para determinar como organizaríamos o trabalho dos próximos dias. Os reencontros como sempre são espectaculares. Mesmo antes de cumprimentar o Gonçalo, ao entrar no módulo científico reencontrei o José Luís um investigador que o ano passado viajou comigo desde Ushuaia até à Antárctida, no Las Palmas, e que depois reencontrei quando vim de Livingston para Deception. Depois foi a altura de reencontrar o Gonçalo, a primeira sensação é estranha, pois é esquisito vê-lo por estas bandas. E assim, neste momento já somos 3 portugueses, acho que até este ano nunca estivemos tantos na mesma ilha na Antárctida. Como as caixas com o equipamento não chegaram em tempo útil a Livingston o Gonçalo está a ver se consegue regressar e eu estou a ver se ele me leva com ele! Seria a oportunidade de rever alguns amigos e de regressar à minha primeira casa na Antárctida.

Entretanto com a chegada do Las Palmas a nossa equipa cresceu muitíssimo. Neste momento somos 10: 3 portugueses (Gonçalo, Mário e Vanessa); 2 espanhóis (Miguel Ramos e Miguel Angél); 2 argentinos (Horácio e Ernesto) e 3 russos (Vassili, David e Nikita).

Os russos durante a sua estadia em Deception estarão essencialmente focados na realização de uma perfuração de 25 metros em Crater Lake dentro do sítio CALM-S que temos nessa zona. Nós, os espanhóis e os argentinos estaremos divididos entre prestar alguma ajuda aos russos; colher amostras de permafrost da perfuração; fazer a descrição da geologia; instalar um novo sitio CALM-S junto ao Irizar; montar locais de monitorização da solifluxão no Crater Lake e no Irizar e com a estação total ler a sua localização; instalar sensores de medição da temperatura do ar e do solo a pequena profundidade; instalar o equipamento de geofísica para monitorização da camada activa em Crater Lake; fazer os perfis geoeléctricos em outros locais da ilha; medir a microerosão costeira em Punta Murature e instalar outro ponto de monitorização da erosão costeira nessa mesma área.

Enfim espera-nos uma semana de trabalho duro até que o Gonçalo regresse a Livingston e que nós posamos continuar com o que ainda fica pendente de trabalho desta semana.

Depois da reunião de uns cafés e uns chás é altura de regressar à base pois são quase horas de jantar. Hoje ao jantar é um dos pratos mais típicos da argentina: Empanadas! Quando me apercebo todos estão na sala de jantar a ajudar o Javier a recheá-las!


Quanto às caixas que ainda estão a bordo do Las Palmas, estes vão esperar na baía da ilha (Porto Foster) até à meia-noite a ver se o tempo melhora. Se entretanto melhorar descarregam o que falta. Se não voltarão amanhã ao final da tarde para ver se temos mais sorte com o tempo.


Entretanto lá fora continua a nevar muitíssimo mas o vento acalmou e a albufeira em frente da base parece um espelho. Tudo à nossa volta está branco. Agora sim parece mesmo uma paisagem antárctica!


segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Cerro Caliente em actividade

Hoje o dia começou com a monitorização da camada activa nos 6 pontos de estudo. Após a efectuação de todas as medidas dirigimo-nos até à base espanhola onde consultamos o e-mail, mas como eram quase horas de almoço na base argentina tivemos de regressar rapidamente.

Depois de almoço terminamos de tratar os dados da monitorização e de preparar os e-mail que queríamos enviar mais tarde quando fossemos à base espanhola, mas de repente o Horácio verificou que no cimo da vertente de Cerro Caliente se via fumo a sair de uma fumarola que nem sempre está tão activa. Assim sendo, adiamos a ida à base espanhola mais para o final da tarde e, como fazia um verdadeiro dia de Verão, decidimos subir ao Cerro Caliente para ver a fumarola de perto e tirar fotos.


Pôs-se uma tarde espectacular, de um verdadeiro Verão Antárctico, em que mais uma vez andei sem luvas e sem gorro por já não aguentar com calor. Quando se sobe ao Cerro Caliente é impossível não tirar a foto da praxe: aquela em que aparecem as duas bases que se encontram em actividade na ilha – Base Decepción (Argentina) e Base Gabriel de Castilla (Decepción).


Depois de meia hora de caminho lá chegamos à fumarola. Quando estávamos quase a chegar começou-se a ouvir um helicóptero e vimos que estava um a dar voltas na baía e que vinha com um barco. Enquanto estávamos lá em cima não sabíamos se seria o Viel (barco chileno de patrulha) ou se era o Endurance (barco britânico). Depois de umas horas a ver as fumarolas na vertente e no topo de Cerro Caliente descemos à base e acabamos por verificar que o barco não era nenhum do que estávamos a pensar mas sim o brasileiro Ary Rongel. Todavia não sabemos o que faz por aqui, se está em patrulha ou em inspecção às bases.

Depois desta caminhada até Cerro Caliente pusemo-nos a caminho da base espanhola, para ir ver os e-mail e finalmente começam a chegar respostas da família aos mail’s que enviei à 2 dias. Parece que estamos novamente em contacto com o mundo!

domingo, 18 de janeiro de 2009

Domingo de descanso e passeio

Depois da noite de ontem que para mim terminou por volta das 3h00 da manhã, mas que para alguns seguiu até às 6h00, hoje foi dia de descanso. Eu dormi até ao meio-dia e quando me levantei ainda tudo andava muito devagar na base. Uns tinham acordado há pouco tempo e outros continuavam a dormir e só acordaram depois das 16h00. Depois de uma semana de trabalho e do convívio de ontem todos merecemos descansar, afinal à que aproveitar também os Domingos na Antárctida.

E como em todos os Domingos em que o tempo está feio, com chuva, frio e vento vamos ficando pela base até à hora de almoço onde passamos a maior parte do tempo no laboratório a por assuntos em dia.

Depois de almoço e porque já estamos a ficar fartos desta morrinha eu, o Horácio, o Martin e o José decidimos ir fazer um passeio até à pinguineira. Depois de 1h30 de caminho, de algumas paragens para fotos, lá chegamos ao pé dos nossos amigos pinguins. Como sempre é incrível o barulho que fazem e como cheiram mal!


Mas o distinto deste passeio dos anteriores é que tivemos a oportunidade, rara, de observar skuas a comer uma cria de pinguim. Apesar de parecer um pouco feio esta é a natureza real. Por cima da pinguineira estão sempre a sobrevoar uma série de skuas que ao mínimo descuido dos pinguins adultos atacam as suas crias. Normalmente nascem 2 pinguins por casal e nos primeiros tempos de vida são o pai e a mãe que tomam conta deles e que, à vez, os alimentam. Depois de cerca de um mês as crias passam a estar no que se chamaria “um jardim-de-infância”, isto é, os adultos juntam 5 ou 6 crias e cercam-nas de maneira a protege-las. O problema é que se por algum acaso uma cria sai destes espaços de protecção e se põe desprotegida, as skuas que estão a rondar em cima da pinguineira atacam-nas de imediato. Foi o que provavelmente aconteceu hoje. As chamadas lei da vida; lei do mais forte e do mais fraco; ou lei do mais bem adaptado ao meio, estiveram em acção! Ou talvez não… uma pura questão de sorte?


Depois deste passeio à pinguineira quando chegámos à base tínhamos visitas. Desta vez, não eram os nossos vizinhos espanhóis mas sim os 6 tripulantes de um veleiro de turismo, de bandeira britânica, mas tripulação francesa, que estava aqui perto e que pediu permissão para visitar a base. Não só visitaram, como tomaram café, comeram e um chegou mesmo a tomar banho! Depois de algumas horas de convívio eles regressaram ao seu barco e nós fomos fazer um assado que ficou pronto às 22h30, quando finalmente começamos a jantar! Estabamos hambrentos!

sábado, 17 de janeiro de 2009

Uma manhã de Verão

Hoje o dia amanheceu excelente, como eu nunca me lembro de ver durante o ano passado. Finalmente a sensação do Verão Antárctico. Quando saímos da base depois do pequeno-almoço o termómetro que temos à porta marcava 3ºC. Mas a esta hora o termómetro está à sombra, o que faz com que, com o sol que está e praticamente sem vento, ao sol devam estar para ai uns 8ºC. Desta forma, e com este dia de Verão, começámos o dia com a monitorização da camada activa em Cerro de la Cruz. Até que cheguem as nossas caixas com o material de trabalho, que pensamos que será a 20 de Janeiro, esta monitorização, o reconhecimento de campo e de perfis são os únicos trabalhos que podemos fazer. Assim, depois de terminada a monitorização dirigimo-nos à base espanhola para cumprimentar os nossos amigos e verificar se tínhamos recebido email´s.


O Mário tem um email do Gonçalo, que está em Livingston, e finalmente estamos todos novamente em contacto. Segundo nos diz o Gonçalo as caixas também não chegaram a Livingston e neste momento não se sabe se estão dentro do Las Palmas e chegam a Livingston a 18 e a Deception a 20 ou se estão num navio que vai levar o material de reconstrução da base de Livingston. Neste momento esperamos que estejam no Las Palmas, pois se estiverem no outro barco creio que nem no dia 25 teremos as caixas connosco, o que complicaria ainda mais o trabalho por cá.

Como hoje é sábado, aqui na base argentina, depois de almoço já não se trabalha, e só se volta a trabalhar na segunda-feira. Nós como, até ao momento, não estamos com muito trabalho, decidimos dormir a sesta e descansar, pois ontem a caminhada de 4h deu cabo de nós e depois passamos o resto da tarde a fazer trabalho de escritório. Enquanto isso ao final da tarde os militares aqui da base decidem ir fazer um passeio até Punta Murature e depois até Baía Telefono. Até Murature levam os carros, daí a Telefono fazem a pé. Este é um percurso que se faz de forma simples com a maré baixa, mas quando esta começa a subir é impossível passar com os carros na Albufeira aqui mesmo ao pé da base. E foi o que aconteceu, quando regressaram já ao início da noite era impossível passar com os carros, que tiveram que ficar do lado de lá, tendo eles que fazer o resto a pé.

Entretanto com toda esta confusão dos carros estavam a chegar alguns espanhóis, que eu não sabia mas vinham jantar aqui à base, pelo que foi uma correria todos a tentar ajudar o Javier a preparar a comida e a mesa. O jantar foi uma comida que tipicamente se come na argentina aos fins-de-semana e que são hamburguês assados na brasa e depois comidos no pão com cebola, fiambre, molhos, cenoura, etc.

Como se está a tornar hábito nestas reuniões de convívio entre bases acabamos a noite a ouvir o Brujo a cantar e ainda fomos brindados por um show de dança típica argentina em que como bailarinos tínhamos o Victor (argentino) trajado a rigor e a Júlia (pinguinóloga argentina que está a viver na base espanhola).



Como se está a tornar hábito foi realmente um excelente convívio.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Reconhecimento de campo

Como temos uma série de contactos atrasados pela questão de termos estado sem email, decidimos que hoje a manhã seria de trabalho de escritório. Para além de ter de enviar os blogs em atraso ao meu amigo Bruno para que ele vos possa por a par do que se passa aqui pelas terras austrais, tinha ainda de enviar os meus contactos à minha colega Ana Salomé para ver se ela nos consegue por em contacto com o Gonçalo na BAE Juan Carlos I. Assim, cada um ficou a preparar os seus mail’s para que quando chegássemos à base espanhola fosse mais rápido enviá-los.

Depois de almoço fomos à base espanhola, enviámos os correios e colocámo-nos a caminho do Rio Mecón onde hoje procedemos a um reconhecimento de campo bem como, ao levantamento de alguns perfis. Logo no início do rio foi possível ver 2 Scuas com a sua cria o que normalmente é raro não só pela localização tão baixa e desprotegida do ninho, como também pelo facto de deixarem a cria tão à vista.


Para além de percorrermos todo o Mecón onde fizemos o levantamento de campo de 2 perfis, subimos ao Crater Lake. No Crater Lake é onde temos o nosso maior espaço de monitorização. Nele temos colocado um sítio CALM-S, que não é mais do que um local onde se medem as espessuras da camada activa, a temperatura do solo e da neve a diferentes profundidades e onde o ano passado colocámos ainda uma câmara fotográfica alimentada a painéis solares que todavia continua de pé.


Como o final de tarde estava espectacular e como cá escurece pouco e a esta altura do ano praticamente não há noite, decidimos descer do sítio CALM-S até à base do Crater Lake, de ai fomos até um outro lago ali próximo e daí descemos para a praia. Depois foi fazer toda a praia até chegar à base argentina, percurso esse que demorou para ai uma hora. Acabámos por chegar à base eram quase 21h30, depois de andarmos cerca de 4 horas a percorrer e conhecer alguns locais da ilha que eu todavia o ano passado não tinha tido a oportunidade de conhecer.


No regresso pela base à praia tivemos a oportunidade de ver uma Foca de Weddel a dizer-nos adeus, antes de se enfiar novamente dentro de água.


Quando chegámos à base eu estava estoirada e como estavam alguns espanhóis que nos tinham vindo visitar, acabamos por petiscar algo antes do jantar que saiu logo de seguida com umas pizzas excelentes. E apesar da apresentação que o Brujo parece que fez ontem e que foi um verdadeiro espectáculo, eu já não aguentei para ver, pois como estava a adormecer no sofá fui tomar um banho e enfiar-me na cama que amanhã temos mais um dia de trabalho.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Início da monitorização

Antes de mais um grande beijo de PARABÉNS ao meu amigo João Pita.

Hoje o dia começou em Cerro de la Cruz onde montámos 3 locais de monitorização da espessura da camada activa. Depois de montados e de iniciadas as medições nestes locais regressámos à base para almoçar e recolher o resto das estacas que continuavam a secar.

Depois de um excelente almoço, que como sempre o Javier (cozinheiro) prepara para todos, recuperamos as forças e regressámos ao Cerro de la Cruz para instalar mais 3 locais de monitorização.

Quatro destes locais estão colocados na mesma vertente, com a mesma exposição e a diferentes altitudes, e pretendem mostrar como evolui o permafrost quando localizado a distintas altitudes mas com exposições semelhantes. Os outros dois pontos de monitorização encontram‑se à mesma altitude, mas em locais com exposições distintas, um dos locais está numa vertente exposta a Norte (a que recebe mais sol durante o dia) e o outro numa vertente exposta a Sul (a que recebe menos sol durante o dia). Nestes últimos dois pontos de monitorização o que pretendemos perceber é como se comporta o permafrost quando localizado à mesma altitude mas recendo quantidades de sol distintas.

Depois de construídos todos os locais de monitorização e de iniciadas as medições fomos fazer uma visita aos nossos vizinhos espanhóis. A ampliação da base espanhola desenrola-se a um ritmo espectacular, hoje como o tempo está pior os trabalhos desenvolvem-se mais no interior da casa com a colocação e isolação do pavimento. Aproveitamos e procuramos o Hector (responsável de comunicações) para saber se já temos email uma vez que necessitávamos de enviar alguns. A boa notícia é que os problemas com o email já estão solucionados e não só é possível enviar como todavia já se conseguem receber. Há cerca de uma semana que não era possível receber correio na base uma vez que a Inmarsat estava a mudar os endereços de IP dos satélites o que nos deixou praticamente isolados do mundo. Assim, acabamos por esperar um pouco para que o Hector nos configure os computadores e logo que estão prontos enviamos uns email à familia e amigos para dizer que está tudo bem e a saber novidades de casa.

Aproveitamos ainda para ver se nos conseguimos contactar por telefone com a Base Espanhola Juan Carlos I (Livingston) onde está o Gonçalo para sabermos se ele já tem alguma notícia das nossas caixas de material de trabalho. Nestas caixas para além do nosso material de trabalho está ainda uma parte do nosso equipamento pessoal (essencialmente roupa) que nos tem feito alguma falta. Não que estejamos a passar frio, mas temos é que lavar mais vezes a roupa que temos uma vez que parte dela se encontra nas caixas que ainda estão a caminho.
Como quase sempre no percurso pela praia, que separa a base espanhola da base argentina, e que demora cerca de 15 minutos, encontrámos alguns amigos pinguins que sempre animam a caminhada.

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

Um dia de Verão

Hoje a manhã começou chuvosa e com muito vento. Por isso decidimos ficar pela base enquanto o carpinteiro preparava as nossas estacas para os locais de monitorização da camada activa. Como as nossas caixas de material não chegaram e não temos as estacas, houve que improvisá-las a partir das caixas de madeira que trazem o material da logística para a base. De cada tábua que compõe as caixas o carpinteiro fez-nos 4 estacas. Precisamos de 54 para montar os 6 locais de monitorização. Como quando as colocarmos no campo precisamos de as ver, e como praticamente não há neve, decidimos pintá-las de laranja. Assim, depois de termos as estacas cortadas fomos os 4 para a oficina pintá-las.


Quando terminámos de as pintar, como era quase hora de almoço, decidimos dar um passeio aqui pelos arredores e como sempre encontramos um lobo-marinho que anda sempre por aqui perto da base e um pinguim papua.



Depois de almoço e apesar do muito vento que fazia o céu pôs-se quase descoberto e por isso decidimos ir fazer um reconhecimento de campo de Punta Murature e aproveitar a maré que estava muito baixa para que o Mário pudesse fazer um reconhecimento do litoral e tirar umas fotografias para trabalhar. Contudo, como a maré todavia não estava muito baixa, tivemos de ir dar a volta à Albufeira. O vento era tanto que nos custava a andar e por isso depois de darmos a volta e de andarmos um pouco na praia contra o vento, percebemos que íamos levar o triplo do tempo para chegar a Murature e que nessa altura já a maré estaria a subir. Assim, decidimos mudar de planos e ir fazer o reconhecimento do Cerro Caliente e do Monte Irizar.

Depois de 3 horas de caminhada, muitas fotografias (à que aproveitar estes dias de sol para tirar as melhores fotografias!!) e um tempo estupendo chegámos finalmente ao interflúvio a partir do qual é possível avistar a pinguineira. É assustador estão ali mais de 20 mil casais de pinguins mais as suas crias. Hoje como já estávamos a caminhar há muitas horas decidimos não descer a cumprimentar os pinguinólogos que estão a trabalhar lá em baixo e ficámos sentados a apreciar de cima a pinguineira e mesmo a esta distância é impressionante o barulho que fazem os pinguins. Felizmente a esta distância ainda não se sente o odor fedorento a guano que existe nas suas proximidades.



Depois de um pouco de descanso, água e barras de cereais, foi altura de regressarmos à base uma vez que hoje fomos convidados para ir jantar à base espanhola. É impossível irmos todos pois aqui na base argentina estamos 16 e na base espanhola creio que estão 23 e por isso não há espaço para todos.

Uma das coisas que tenho notado muito diferente do ano passado para este ano é que o tempo está muito melhor. Não há quase neve em lado nenhum mas especialmente nas vertentes expostas a Norte, principalmente entre a base argentina e a base espanhola. O ano passado a foz do rio Mecón esteve sempre com neve, era impossível passar com os veículos e este ano está totalmente limpa. Outros valeiros de maiores dimensões entre as duas bases estiveram sempre cheios de neve e a verdade é que este ano não se vê nem um neveiro pequeno nesta área. Em conversa com o Mário, com o Horácio e com alguns repetentes da base espanhola verifico que à 2 anos as coisas estavam mais ou menos como agora e que realmente a opinião de todos é que o ano passado foi mesmo muito atípico. Já tinha reparado nesta mudança ontem quando estive na base espanhola. Recordo que o ano passado eu não ia do módulo de vida ao módulo científico sem luvas e gorro, e ontem estivemos para ai durante meia hora na rua a conversar e não tinha nem luvas nem gorro e todavia também não tinha frio. E hoje, mais uma vez, andei quase toda a tarde a tirar o gorro porque fazia calor. Recordo ainda que o ano passado a primeira vez que vi o céu azul ou uma parte dele foi 2 semanas depois de ter chegado a Deception e este ano tenho visto todos os dias. Mas todavia não vamos deitar muitos foguetes porque já sabemos que cá fazem as 4 estações num só dia.

O jantar na base espanhola foi espectacular. Para além do arroz de lulas com tinta estar excelente o convívio entre as duas bases foi espectacular. Eu como já disse sinto-me em casa! Com algumas dessas pessoas comparti a campanha passada e com as outras que só conheço há alguns dias já sinto como se as conhecesse há muito tempo. Este ano há uma curiosidade engraçada, é que tanto na base espanhola como na base argentina existem militares que tocam viola. Para mais o nosso Brujo toca ainda guitarra eléctrica (apesar de ainda não termos ouvido) e uma espécie de acordeão pequeno que se chama Bandoneón.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Reencontro com velhos amigos

Como alguns já conhecem dos relatos do ano passado todas as bases têm as suas regras e quando se vive em comunidade convêm que estas sejam cumpridas. A base argentina Decepción não é, nesse tema, uma excepção.

Aqui toma-se o pequeno-almoço às 8h00, almoça-se às 13h00 e janta-se às 21h00. O nosso trabalho é essencialmente no campo e salvo que as condições meteorológicas não nos permitam vamos estar muitas vezes fora. Contudo, estes 3 horários são aqueles que tentaremos cumprir rigorosamente. São estes 3 momentos que juntam toda a dotação da base, que aproximam as pessoas e que fazem com que, mais tarde, a permanência aqui seja tão inesquecível.

Depois do pequeno-almoço foi altura de ir fazer uma visita à Base Espanhola Gabriel de Castilla para cumprimentar a todos, ver quem está do ano passado, conhecer os novos e tratar do assunto das comunicações. Para além de mim, do Mário, do Horácio e do Ernesto acompanha‑nos à Base Espanhola o nosso chefe de base. Mas quando estamos mesmo para sair chegam à nossa porta o chefe de base espanhol (Fernando) com mais um militar. Ao Fernando eu já o conhecia do ano passado, ele havia estado por aqui no final da campanha para conhecer a base, ver como funcionava e depois acabamos por viajar juntos, no Las Palmas, até Ushuaia onde nos voltámos a cruzar uma série de vezes. Eles andavam a fazer um reconhecimento de campo para estes lados e por isso continuaram enquanto nós fomos para a base deles.

Como sempre os reencontros entre as pessoas que partilharam a experiência antárctica são emocionantes, mas estes 3 que se seguiram foram-no especialmente. Ao chegarmos à base espanhola desceu logo o Juan (que estava a montar o novo módulo de vida) a cumprimentar‑nos. Este era o único militar que eu sabia que, da dotação anterior, estaria este ano novamente na base. Normalmente as dotações militares não repetem as estadias na Antárctida uma vez que é um local onde quase todos gostavam de vir. Contudo, existe sempre um elemento da dotação anterior que repete e este ano sabia que seria o Juan uma vez que é dos que melhor conhece o tema da construção dos novos módulos. Mas de repente apareceu o Jesus, um dos militares com quem tinha melhor relação no ano passado, com quem fiz a minha primeira “Maria” na base, com quem sai da ilha e que ainda por cima no final da campanha ainda nos vimos em Ushuaia. Assim que, quando nos vimos os abraços e os olhares que se trocaram foram inesquecíveis. Estes momentos de reencontro tanto com o Juan como com o Jesus dizem mais que mil palavras e são para sempre inolvidáveis. De seguida entramos para o módulo de vida, não há como explicar a sensação, pois é mais forte do que a que senti quando entrei na base argentina. Era de novo a sensação de regressar a casa, de ver como nada mudou, incluindo a bandeira do projecto LATITUDE60!, que o ano passado ofereci à base, que estava no mesmo sítio. As coisas continuam iguais e enquanto uns tomavam café eu fui tratando de preparar o meu chá. Foi neste momento que entrou o Amos, um dos investigadores que o ano passado ficou comigo até ao final, e aconteceu mais um reencontro. É inexplicável a afinidade e proximidade que temos a estas pessoas que no fundo partilharam connosco apenas 3 semanas das nossas vidas.

Depois de todos estes reencontros, foi altura de irmos procurar a cruz de metal com que trabalhamos no campo e que o ano passado deixámos guardada no laboratório. Como era de esperar lá estava ela! Vamos então tratar do que nos faz ainda falta… uma conta de e-mail para nos podermos contactar com o mundo. Criar a conta é fácil, o problema é que há uma semana que ninguém consegue receber correios, parece que é possível enviar, mas os tipos do satélite estão a mudar os IP de utilização e por isso é impossível receber. Esperam que em 3 dias este assunto esteja solucionado e aí poderemos voltar a comunicar-nos normalmente com o exterior.

Precisávamos contactar o Gonçalo na base Juan Carlos I em Livingston, mas ao que parece, as notícias dizem que eles ainda estão pior que nós, não conseguem enviar nem receber e-mail, para além de que aqui na base espanhola todavia não sabem sequer se eles têm o telefone a funcionar, devido à ligação de satélite que utilizam. Realmente há 4 dias atrás enviei um e-mail ao Chris (electrónico de Juan Carlos I) para saber o e-mail do Gonçalo da base e para bromear um pouco com ele e esse correio veio devolvido, o que me pareceu muito estranho porque esse sempre foi o seu e-mail. Ao que parece já nessa altura estavam sem contactos.

A adicionar a esta questão dos correios temos ainda outro problema. As nossas caixas de trabalho ainda não chegaram e por isso o único material que temos para trabalhar é a cruz. No dia 1 de Janeiro (um dia antes da nossa saída de Lisboa) fomos informados pelo Programa Antárctico Espanhol que as nossas caixas estavam atrasadas. Ao que parece o cargueiro onde seguia o contentor com o material antárctico, de várias equipas, que saiu de Espanha a caminho de Ushuaia, teve um qualquer problema, que até agora não compreendemos, e por isso teve de parar uns dias em Montevideu (Uruguai). Essa paragem fez que, ao contrário do que estava previsto, a carga antárctica espanhola não estivesse em Ushuaia na data em que o Las Palmas sairia do porto para ir distribuir esse material às bases Juan Carlos I e Gabriel de Castilla. Assim, e apesar de o Las Palmas ter atrasado a sua partida um dia, devido a condições meteorológicas não pode esperar mais e zarpou em direcção à Antárctida. Desta forma, todas as nossas caixas de trabalho devem estar agora em Ushuaia, e segundo consegui perceber, existem pelo menos outras 2 equipas que estão só com metade do material. O que sabíamos quando saímos de Lisboa é que iam tentar enviar o material a Juan Carlos I (Livingston), onde está o Gonçalo, pelo barco que está a levar material para a reconstrução da base. Até agora não sabemos se tal foi possível, pois as comunicações de satélite não estão fáceis. O que sabemos é que aqui em Deception não chegou nada e o Las Palmas só voltará entre dia 18 e 20 pelo que antes dessa data vamos aproveitar para construir os locais de monitorização com a cruz e começar com a mesma, bem como fazer perfis de campo de reconhecimento do permafrost.

Depois de um excelente almoço na nossa base é altura de ir para o campo. Hoje fizemos o reconhecimento de Cerro de La Cruce e de Punto 2, onde a Raquel o ano passado mantinha a monitorização da camada activa. Desta forma, aproveitámos também para procurar 5 locais com as condições que necessitamos para colocar os locais de monitorização. Apesar da chuva e do vento e de chegarmos todos molhados à base passou-se muito bem a tarde.

Hoje o jantar foi de recepção. A comida aqui na base é sempre muito boa, mas hoje o Javier (Cozinheiro) fez um jantar de luxo. Comemos uns crepes de espinafres de entrada, um peito de frango recheado com molho de cogumelos e de sobremesa salada de fruta com gelado. Para terminar o enfermeiro da base “El Brujo” presenteou-nos com uma apresentação de música onde ele tocava e cantava que foi muito divertida.


segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

De volta a casa

Depois de 9h a dormir muito bem, no chão do escritório, lá acordei e decidi ir para a sala principal. Quando lá cheguei estavam os 3 investigadores que vão para Primavera, mas os meus 3 colegas de equipa ainda estavam a dormir. Passados 10 minutos de estar na sala veio o ajudante do comandante perguntar se já tinha tomado pequeno-almoço. Disse-lhe que não pelo que o acompanhei até à sala de oficiais onde o tomei com o comandante e com o médico. Ao que parece como ontem trabalharam até tarde com a descarga do material a Esperança e as transferências com o Beagle, hoje foi dada, a quase toda a tripulação, a possibilidade de descansarem de manhã.

Depois de mais de um dia de viagem, entramos no Castillo ontem às 11h00, estamos finalmente a chegar a Deception. Quando saio para a área aberta do barco o vento está gelado, mas felizmente o sol vai tentando romper a espessa camada de nuvens e lá nos vai aquecendo. Ao longe já se vêm as Fuelles de Neptuno, a entrada estreita e pouco profunda que separa o Oceano Glaciar Antárctico, em mar aberto, de Porto Foster, a baía existente dentro da ilha Deception.

Quando olhamos para o nosso lado esquerdo é possível ver ao longe a Base Espanhola Gabriel de Castilla, onde estive o ano passado, e é nesse momento que reparamos que a base já está a crescer. Tem mais um módulo junto ao módulo principal de vida e também uma série de outros módulos individuais. Um pouco depois começamos a ver, ao fundo, a Base Argentina Decepción e entre confirmarmos se todo o nosso equipamento está pronto e nos prepararmos… estão já a colocar a Zoddiac no mar. Nós descemos de seguida e na praia da Base Argentina para além do chefe de base (Ariel) esperam-nos 2 militares argentinos. Depois dos cumprimentos e formalidades dirigimo-nos à casa principal. Pelo caminho vamos percebendo o que mudou do ano passado e quais foram as consequências do Inverno. Para além das alterações normais este ano os ventos de Inverno foram muito agrestes e numa das casas de guardar material, grande parte do tecto foi levantado bem como uma grande parte de uma das laterais da casa.


Quando entro de novo na base argentina sou incapaz de não esboçar um sorriso de orelha a orelha. A base Argentina para além de ser muito grande (em tempos já foi base permanente) é também muito cómoda com soalho e paredes de madeira e muito aquecida. É como a sensação de chegar a casa de uma avó onde não vamos há muito tempo. De seguida somos apresentados a toda a dotação da base e tomamos um café quente. É altura de nos acomodarmos. A grande novidade este ano é que tenho um quarto só para mim, o que felizmente fará com que tenha alguma privacidade. Jantamos todos juntos, do ano passado não há nenhum militar, assim que o Horácio é o mais antigo da base. Já se faz tarde, mas continua lusco-fusco, contudo é meia-noite e meia, hora de tomar um banho quente e de ir dormir.

Finalmente regresso a casa!

domingo, 11 de janeiro de 2009

De regresso à Antárctida

Antes de mais, um grande beijo de PARABÉNS ao meu amigo Bruno, futuro papá de um Pedro que espero que esteja bem. Para o Pedro e para a mamã Débora também um grande beijinho.

Depois de 3 horas de sono, às 4h30 foi hora de acordar, beber um chá e comer umas bolachas, pois temos de ir para o terminal de aterragem uma vez que o voo sai às 6h.

Às 6h30 estamos a descolar da base militar de Rio Gallegos e às 9h30, desta vez sem nenhum percalço, aterramos em Rei Jorge (Antárctida), na base Chilena de Comandante Frei. Como não havia camioneta onde colocar as malas, cada um de nós conforme ia saindo pela parte de trás do Hércules, pegava em uma ou duas malas e levava-as para o hangar. Como dormimos tão pouco hoje nem dei pelo barulho que faz o Hércules, mal me sentei adormeci.


Do hangar da pista de aterragem fomos levados de jipe até à praia onde fomos transportados de Zoddiac até ao barco Castillo que nos levará até à ilha Deception. Como fomos embarcadas cerca de 40 pessoas, e vamos para quatro bases distintas, de início ainda não se sabe muito bem qual será a ordem da viagem, esta dependerá de questões logísticas mas também, em muito, das condições meteorológicas.




Por questões de proximidade (1h de distância) a primeira base onde paramos é Jubany onde fica uma só pessoa, que será recolhida daqui a 2 dias para depois ser transportada à Base Esperança. De Jubany vamos a Esperança, claramente por razões logísticas. Desde que em 2007 o Irizar, um dos barcos Argentinos, ao regressar da Antárctida no final de uma campanha ardeu e ficou parcialmente destruído a logística marinha é realizada na essência pelo Castillo e pelo Canal de Beagle, este último denominado carinhosamente pelos argentinos por Pérola Negra, e por alguns barcos que têm alugados. A grande diferença entre os 2 barcos que estão agora em funcionamento e o Irizar, segundo me explicam, é que o Irizar é um quebra-gelos, com boas condições de alojamento para quem nele viaja, o que facilita em muito o acesso a outras bases e que permitia que aterrássemos em Marambio (base argentina) em vez de termos de ir a Frei (base chilena).


Como referi anteriormente a opção de ir primeiro a Esperança e só depois a Deception e a Primavera prende-se exclusivamente com questões logísticas, uma vez que Deception e Primavera acabam por ser muito mais perto de Jubany do que Esperança. O problema é que vamos ter de dormir a bordo e dos cerca de 40 que estamos aqui 32 ficam em Esperança para a próxima Invernada. Assim, depois de 12 horas de viagem, de atravessarmos do Arquipélago das Ilhas Shetland do Sul, para a península Antárctida lá chegamos a Esperança. É a primeira vez que estou do lado do continente Antárctico e com a aproximação ao continente sentimos mais o frio. Passo quase toda a viagem com frio não só pela aproximação ao continente, mas também pelo facto de que quando bordeamos a poupa do Castillo com a Zoddiac entramos de frente em duas ondas o que fez com que nos molhássemos bastante. Felizmente este ano estou a enjoar muito menos, continuo a tomar os comprimidos do enjoo, mas consigo levantar-me para comer todas as refeições e sinto-me em geral bem. Contudo estamos todos muito cansados, dormimos cerca de 3 horas por causa dos horários dos voos e a certa altura não há filmes nem musica que nos mantenham acordados e numa pequena sala, todos apertados, acabamos por adormecer com a cabeça em cima das mesas, totalmente desconfortáveis, mas o corpo não aguenta mais. A grande novidade de vir tão próximo do continente, e de não estar a enjoar, é que pela primeira vez vejo os icebergs. Ao vivo são espectaculares, principalmente pelo seu tamanho.


Chegamos a Esperança cerca das 22h30 e como não há vento (é das poucas vezes que vejo a Antárctida sem vento) e a temperatura está excelente (aproximadamente 4ºC), procede-se à transferência dos 32 militares para terra, bem como do seu equipamento e de todo o material de logística (alimentação, ferramentas e outros bens essenciais). Aproveita-se ainda o bom tempo e o facto de o barco Canal Beagle estar também na Baía Esperança para transferir material logístico do Beagle para o Castillo.

A Base Esperança é uma base permanente onde para além de investigadores vivem os militares com as suas famílias. Na base de Frei cruzámo-nos com algumas dessas famílias com as suas crianças. Em Esperança existe tudo o que existe numa cidade para que se possa viver tranquilamente: escolas, igrejas, hospital, correios, etc. As crianças passam este ano muito bem, para além das actividades diárias normais, aprendem a esquiar, a escalar no gelo, a observar pinguins e focas, enfim uma experiencia que creio nunca esquecerão. Para além de algumas crianças que já nasceram nesta base, pela primeira vez, este ano, foi celebrado um casamento civil entre a médica e um dos carpinteiros, tendo-os casado o chefe de base.

Acabamos por sair de Esperança à 1h00. Antes de sairmos é-nos indicado pelo ajudante do comandante o sítio onde dormiremos. Claramente não há muito espaço para todos, mas com uns colchões no chão do escritório lá se arranja o espaço onde vou dormir. Não é o melhor do mundo, mas poder estar deitada e descansar é por si só excelente. Estou estoirada e creio que apesar de não ser exactamente cómodo vou dormir muito bem. Até amanhã!