sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

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Hoje pela manhã eu, o Mário e o Horácio subimos a Crater Lake para ver se terminávamos a instalação do equipamento de geofísica de monitorização da camada activa e para ajudar o Gonçalo com a instalação das estacas de monitorização da solifluxão e também com a aquisição da sua localização com a estação total.

O Ernesto já tinha ido mais cedo para a base espanhola, pois subiria com os russos, os quais tem estado a ajudar desde o primeiro dia na questão da perfuração.

Depois de devidamente acabada a instalação do equipamento de geofísica, foi altura de realizar um primeiro teste para ver se tudo estava a funcionar e para iniciar o processo de monitorização. Infelizmente o programa com que fazemos a preparação dos parâmetros de monitorização (Geotest), num dos passos deu um erro que não conseguimos solucionar.



Entretanto a perfuração que estamos a fazer com os russos também foi encerrada. Dos 3 russos que colaboram connosco, um é uma das mais altas entidades no mundo do permafrost, outro é geólogo e o outro é biólogo e estuda microbiologia. A eles para além de lhes interessar o tema do permafrost interessa-lhes muito mais colher amostras microbiológicas para ver se existem microorganismos congelados. O problema é que na primeira perfuração a partir dos 3 metros de profundidade não se conseguiam retirar amostra congeladas, parece que podemos estar perante a presença de permafrost seco ou da não existência de permafrost. Assim, após 6 metros de perfuração decidiu-se dar a perfuração por terminada e mudar de sítio. Conseguiram entubar-se 4 metros, nos quais se colocarão sensores de temperatura para estudar o permafrost.

Entretanto eu, o Mário, o Horácio, o Ernesto e o Gonçalo viemos almoçar à base argentina. Depois de almoço o Mário foi mostrar ao Gonçalo os 6 locais de monitorização da camada activa que temos em Cerro de la Cruz e daí seguiram para a base espanhola e depois para Crater Lake com a estação total. Entretanto eu fiquei a preparar o mail e as fotografias para enviar aos nossos colegas da geofísica em Lisboa, para que nos ajudem a solucionar o problema do equipamento de monitorização. O Horácio e o Ernesto aproveitaram para descansar um pouco e por volta das 15h30 já estávamos todos novamente na base espanhola para ir para Crater Lake. Eu aproveitei para enviar o mail rapidamente e pusemo-nos a caminho.

Em Crater Lake enquanto os russos transportavam o material para o local da nova perfuração e a começavam a montar, eu e o Horácio íamos montando as 3 linhas, com 10 estacas cada uma, para a monitorização da solifluxão. Depois de montadas as linhas o Gonçalo, o Mário e o Horácio começaram com as medições com a estação total, enquanto eu ajudava o Miguel Angel com a descrição e colheita de amostras de permafrost e de solo, dos testemunhos que iam saindo da perfuração. Neste momento estamos em Crater Lake 10 elementos da equipa, todos a trabalhar em distintas actividades, e claramente vê-se a confusão que isso gera.


Entretanto por volta das 19h30 foi altura para descer para a base espanhola para consultar os e‑mail até às 20h30, quando chegará alguém da base argentina para nos vir buscar.

Entretanto ao ver o e-mail chegam as más noticias. Antes de sair de Lisboa para a Antárctida a minha mãe tinha estado internada com um problema de coração durante 2 semanas. Quando sai já estava recuperada, mas ainda não se sabia o que tinha dado origem e por isso teria de repetir um ecocardiograma em breve. Parece que o repetiu hoje, e como ainda tem um pouco de líquido no coração (muito menos do que na 1ª vez) os médicos decidiram interna-la novamente. A notícia do internamento e do resultado do ecocardiograma chegaram-me por um e-mail enviado pelo meu pai à menos de 20 minutos. Apesar de em Lisboa serem quase 23h00 decido ligar directamente da base espanhola para saber mais novidades. O meu pai faz-me um ponto da situação que me deixa mais tranquila mas não descansada. Felizmente neste momento o apoio dos meus companheiros de equipa e do chefe de base espanhola foi excepcional.

Agora o que queria era telefonar à minha mãe a saber como está, mas é tarde para se ligar para alguém que está no hospital. Bom há que acalmar-me e ligar amanhã. Entretanto enquanto esperávamos pelo jantar aparece o Ernesto na sala a dizer que tenho uma chamada no telefone de satélite. Pânico! São 00h30 em Lisboa e já sei que tenho a minha mãe no hospital. Corro pelos corredores da base até ao laboratório. Finalmente quando chego ao telefone era a minha mãe. Agora mais descansada! Era ela a dizer que estava internada, que queria que eu soubesse por ela, para que eu ficasse tranquila porque ela está bem. Na realidade depois de 5 minutos de conversa (acho que foi a 1ª vez que o telefone aguentou uma chamada tão longa!) acho que as duas ficamos mais tranquilas, eu porque me pareceu que ela estava animada e ela porque percebeu que eu fiquei mais calma. Enfim vamos ver como correm os próximos dias e tentar esperar por mais notícias com tranquilidade. Daqui não posso fazer nada, em Lisboa para além de a acompanhar no internamento também não poderia fazer muito. Este é um dos tipos de situações para o qual mais me tentei preparar psicologicamente. Espero agora conseguir levar as coisas, por aqui, bem. Por agora mais tranquila, embora não despreocupada. Aqui na Antárctida há uma máxima que aprendemos todos aprendemos: “No News, Good News”. Porque como hoje se provou as más noticias voam.

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