terça-feira, 20 de janeiro de 2009

O Inverno chegou à Antárctida

Hoje o dia amanheceu feio, com muita neve e chuva, e como estamos à espera que chegue o Las Palmas onde vem o Gonçalo e o nosso equipamento decidimos passar a manhã pela base. Hoje estamos nos antípodas de ontem. Ontem tivemos talvez um dos melhores dias que eu vi nestas duas campanhas na Antárctida e hoje talvez um dos piores.

Por volta das 10h30 chamámos por rádio para a base espanhola para saber se já tinham baixado as pessoas que estavam a bordo. A resposta foi afirmativa, o problema é que como o tempo começou a piorar e o vento a aumentar muito, tiveram de terminar os trajectos pois havia o risco de uma zodiac virar e por isso 8 das nossas caixas de equipamento continuaram a bordo.

Depois de almoço e debaixo de uma neve e um vento que nos faziam quase voar pusemo-nos a caminho da base espanhola. O resto da equipa tinha chegado pela manhã e tínhamos de os ir cumprimentar e também reunirmo-nos para determinar como organizaríamos o trabalho dos próximos dias. Os reencontros como sempre são espectaculares. Mesmo antes de cumprimentar o Gonçalo, ao entrar no módulo científico reencontrei o José Luís um investigador que o ano passado viajou comigo desde Ushuaia até à Antárctida, no Las Palmas, e que depois reencontrei quando vim de Livingston para Deception. Depois foi a altura de reencontrar o Gonçalo, a primeira sensação é estranha, pois é esquisito vê-lo por estas bandas. E assim, neste momento já somos 3 portugueses, acho que até este ano nunca estivemos tantos na mesma ilha na Antárctida. Como as caixas com o equipamento não chegaram em tempo útil a Livingston o Gonçalo está a ver se consegue regressar e eu estou a ver se ele me leva com ele! Seria a oportunidade de rever alguns amigos e de regressar à minha primeira casa na Antárctida.

Entretanto com a chegada do Las Palmas a nossa equipa cresceu muitíssimo. Neste momento somos 10: 3 portugueses (Gonçalo, Mário e Vanessa); 2 espanhóis (Miguel Ramos e Miguel Angél); 2 argentinos (Horácio e Ernesto) e 3 russos (Vassili, David e Nikita).

Os russos durante a sua estadia em Deception estarão essencialmente focados na realização de uma perfuração de 25 metros em Crater Lake dentro do sítio CALM-S que temos nessa zona. Nós, os espanhóis e os argentinos estaremos divididos entre prestar alguma ajuda aos russos; colher amostras de permafrost da perfuração; fazer a descrição da geologia; instalar um novo sitio CALM-S junto ao Irizar; montar locais de monitorização da solifluxão no Crater Lake e no Irizar e com a estação total ler a sua localização; instalar sensores de medição da temperatura do ar e do solo a pequena profundidade; instalar o equipamento de geofísica para monitorização da camada activa em Crater Lake; fazer os perfis geoeléctricos em outros locais da ilha; medir a microerosão costeira em Punta Murature e instalar outro ponto de monitorização da erosão costeira nessa mesma área.

Enfim espera-nos uma semana de trabalho duro até que o Gonçalo regresse a Livingston e que nós posamos continuar com o que ainda fica pendente de trabalho desta semana.

Depois da reunião de uns cafés e uns chás é altura de regressar à base pois são quase horas de jantar. Hoje ao jantar é um dos pratos mais típicos da argentina: Empanadas! Quando me apercebo todos estão na sala de jantar a ajudar o Javier a recheá-las!


Quanto às caixas que ainda estão a bordo do Las Palmas, estes vão esperar na baía da ilha (Porto Foster) até à meia-noite a ver se o tempo melhora. Se entretanto melhorar descarregam o que falta. Se não voltarão amanhã ao final da tarde para ver se temos mais sorte com o tempo.


Entretanto lá fora continua a nevar muitíssimo mas o vento acalmou e a albufeira em frente da base parece um espelho. Tudo à nossa volta está branco. Agora sim parece mesmo uma paisagem antárctica!


Sem comentários:

Enviar um comentário