domingo, 11 de janeiro de 2009

De regresso à Antárctida

Antes de mais, um grande beijo de PARABÉNS ao meu amigo Bruno, futuro papá de um Pedro que espero que esteja bem. Para o Pedro e para a mamã Débora também um grande beijinho.

Depois de 3 horas de sono, às 4h30 foi hora de acordar, beber um chá e comer umas bolachas, pois temos de ir para o terminal de aterragem uma vez que o voo sai às 6h.

Às 6h30 estamos a descolar da base militar de Rio Gallegos e às 9h30, desta vez sem nenhum percalço, aterramos em Rei Jorge (Antárctida), na base Chilena de Comandante Frei. Como não havia camioneta onde colocar as malas, cada um de nós conforme ia saindo pela parte de trás do Hércules, pegava em uma ou duas malas e levava-as para o hangar. Como dormimos tão pouco hoje nem dei pelo barulho que faz o Hércules, mal me sentei adormeci.


Do hangar da pista de aterragem fomos levados de jipe até à praia onde fomos transportados de Zoddiac até ao barco Castillo que nos levará até à ilha Deception. Como fomos embarcadas cerca de 40 pessoas, e vamos para quatro bases distintas, de início ainda não se sabe muito bem qual será a ordem da viagem, esta dependerá de questões logísticas mas também, em muito, das condições meteorológicas.




Por questões de proximidade (1h de distância) a primeira base onde paramos é Jubany onde fica uma só pessoa, que será recolhida daqui a 2 dias para depois ser transportada à Base Esperança. De Jubany vamos a Esperança, claramente por razões logísticas. Desde que em 2007 o Irizar, um dos barcos Argentinos, ao regressar da Antárctida no final de uma campanha ardeu e ficou parcialmente destruído a logística marinha é realizada na essência pelo Castillo e pelo Canal de Beagle, este último denominado carinhosamente pelos argentinos por Pérola Negra, e por alguns barcos que têm alugados. A grande diferença entre os 2 barcos que estão agora em funcionamento e o Irizar, segundo me explicam, é que o Irizar é um quebra-gelos, com boas condições de alojamento para quem nele viaja, o que facilita em muito o acesso a outras bases e que permitia que aterrássemos em Marambio (base argentina) em vez de termos de ir a Frei (base chilena).


Como referi anteriormente a opção de ir primeiro a Esperança e só depois a Deception e a Primavera prende-se exclusivamente com questões logísticas, uma vez que Deception e Primavera acabam por ser muito mais perto de Jubany do que Esperança. O problema é que vamos ter de dormir a bordo e dos cerca de 40 que estamos aqui 32 ficam em Esperança para a próxima Invernada. Assim, depois de 12 horas de viagem, de atravessarmos do Arquipélago das Ilhas Shetland do Sul, para a península Antárctida lá chegamos a Esperança. É a primeira vez que estou do lado do continente Antárctico e com a aproximação ao continente sentimos mais o frio. Passo quase toda a viagem com frio não só pela aproximação ao continente, mas também pelo facto de que quando bordeamos a poupa do Castillo com a Zoddiac entramos de frente em duas ondas o que fez com que nos molhássemos bastante. Felizmente este ano estou a enjoar muito menos, continuo a tomar os comprimidos do enjoo, mas consigo levantar-me para comer todas as refeições e sinto-me em geral bem. Contudo estamos todos muito cansados, dormimos cerca de 3 horas por causa dos horários dos voos e a certa altura não há filmes nem musica que nos mantenham acordados e numa pequena sala, todos apertados, acabamos por adormecer com a cabeça em cima das mesas, totalmente desconfortáveis, mas o corpo não aguenta mais. A grande novidade de vir tão próximo do continente, e de não estar a enjoar, é que pela primeira vez vejo os icebergs. Ao vivo são espectaculares, principalmente pelo seu tamanho.


Chegamos a Esperança cerca das 22h30 e como não há vento (é das poucas vezes que vejo a Antárctida sem vento) e a temperatura está excelente (aproximadamente 4ºC), procede-se à transferência dos 32 militares para terra, bem como do seu equipamento e de todo o material de logística (alimentação, ferramentas e outros bens essenciais). Aproveita-se ainda o bom tempo e o facto de o barco Canal Beagle estar também na Baía Esperança para transferir material logístico do Beagle para o Castillo.

A Base Esperança é uma base permanente onde para além de investigadores vivem os militares com as suas famílias. Na base de Frei cruzámo-nos com algumas dessas famílias com as suas crianças. Em Esperança existe tudo o que existe numa cidade para que se possa viver tranquilamente: escolas, igrejas, hospital, correios, etc. As crianças passam este ano muito bem, para além das actividades diárias normais, aprendem a esquiar, a escalar no gelo, a observar pinguins e focas, enfim uma experiencia que creio nunca esquecerão. Para além de algumas crianças que já nasceram nesta base, pela primeira vez, este ano, foi celebrado um casamento civil entre a médica e um dos carpinteiros, tendo-os casado o chefe de base.

Acabamos por sair de Esperança à 1h00. Antes de sairmos é-nos indicado pelo ajudante do comandante o sítio onde dormiremos. Claramente não há muito espaço para todos, mas com uns colchões no chão do escritório lá se arranja o espaço onde vou dormir. Não é o melhor do mundo, mas poder estar deitada e descansar é por si só excelente. Estou estoirada e creio que apesar de não ser exactamente cómodo vou dormir muito bem. Até amanhã!

Sem comentários:

Enviar um comentário