sábado, 10 de janeiro de 2009

De partida para a Antárctida

Antes de mais dois grandes beijinhos de PARABÉNS: um para a Matilde, filha do meu grande amigo Gonçalo Vilaça, e outro para o meu amigo Grego.

Hoje é dia de partir para dar início a mais uma campanha Antárctica. A minha segunda e talvez por isso, este ano, a ansiedade seja menor. A adicionar à experiência do ano passado tenho de juntar o facto de ir atravessar o Estreito de Drake de avião e não de barco, o que à partida já faz com que a ansiedade diminua. Como a partida será por volta das 18h00 aproveitei a manhã para dormir um pouco mais e terminar de arrumar a mala. Às 12h30 veio-nos buscar um remis que o Horácio enviou, uma vez que vamos almoçar a sua casa. Em casa do Horácio almoçamos eu e o Mário, o Horácio e o Ernesto (que viajarão connosco à Antárctida e completarão a equipa) e ainda a Patrícia (namorada do Horácio) e a Mari (cunhada do Horácio), ambas geólogas.

O reencontro com o Horácio foi, como era de esperar, emocionante. O Horácio esteve com a Raquel o ano passado na Antárctida e por isso acabamos por passar muito tempo juntos a trabalhar. Para além disso a altura em que conheci o Horácio foi talvez uma das mais complicadas da campanha passada e ele, a Raquel e o Alberto foram sem dúvida as peças fundamentais para que conseguisse terminar a campanha com sucesso. E como com quase todas as pessoas que partilham a experiencia antárctica os laços criados são muito fortes devido à proximidade que se estabelece e ao facto de estarmos isolados.

Depois de um excelente almoço de pizza, gelado e cerejas e de muita conversa foi altura de nos pormos a caminho da Base da Força Aérea Argentina de Palomar que se localiza a aproximadamente 1h de distância de Buenos Aires.


Depois de uma espera de alguns minutos à porta da Base de Palomar foi altura de entrar e proceder a toda a parte logística que implica esta viagem. Começamos por trocar de sapatos, até agora andei sempre de chinelos (em Buenos Aires é impossível andar de outra forma), e calçar as botas de campo que são muito pesadas para ir na bagagem de porão e que vão ser úteis a meio da viagem. Depois tivemos de proceder a uma espécie de check-in e ao acondicionamento manual da nossa “bagagem de porão”.


Afinal ao contrário do que esperávamos vamos viajar num Hércules e não num Fokker. É incrível ver a quantidade de pessoas que vai viajar, e agora percebo, finalmente, porque é a logística Argentina tão complexa. A Argentina é um dos países com mais bases na Antárctida, algumas permanentes outras de Verão. Connosco viajam várias pessoas: investigadores que vão para a Base Primavera passar uma parte do Verão; mais de 30 militares que estarão na Base Esperança durante o próximo ano e que irão agora substituir os colegas que lá passaram o ano anterior; algumas pessoas que ficarão em Rio Gallegos, e o mais caricato uma senhora com a filha que vai visitar o marido, durante 10 dias, à Base de Marambio uma vez que este já lá está à 3 meses e passará mais 9.


Às 17h30 entrámos no Hércules que descolou, quase sem atraso, às 18h15. Já muitas vezes tinha visto imagens deste tipo de avião e tinha ouvido muitas coisas, mas como em tudo na vida não há como experimentar, sentir e ouvir o barulho que este avião fez durante cerca de 5 horas, as que separaram Buenos Aires de Rio Gallegos. O programa é aterrarmos e apanharemos outro voo até à Ilha de Rei Jorge já na Antárctida. A viagem decorreu quase sem percalços, digo quase porque a uma hora de chegarmos a Rio Gallegos todos os técnicos do avião começaram em alvoroço, via-se que algo não estava bem. Depois percebemos que um dos motores estava a ficar sem óleo e por isso começaram a abrir várias latas de óleo e a colocar o que faltava. Durante alguns minutos sentiu-se claramente a tensão no avião. Segundo me dizia o Horácio e o Carlos (um experiente antárctico que o Horácio encontrou em Palomar), isto costuma acontecer, o que não é usual é meterem quase 20 latas de óleo. Soubemos depois, já com os pés em terra, que o facto de o motor ficar sem óleo pode levar a que entre em combustão. Enfim, depois de um pequeno susto chegamos bem.


Como aterrámos em Rio Gallegos às 22h30 já não voamos hoje para Rei Jorge. Assim, levam‑nos até uma espécie de base militar onde ficámos a passar a noite. Depois de uma comida e de um banho quente é hora de ir deitar pois o despertar é já daqui a poucas horas.

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