quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

Despedindo-nos da Antárctida

Hoje decidi não me levantar para ir tomar o pequeno-almoço, às 7h30, ao Casino dos Oficiais. O pequeno-almoço ali não é nada de especial e por isso não justifica sair tão cedo da cama e com tanto sacrifício. Eu tenho ainda alguma comida da merenda que nos deram anteontem à saída do Las Palmas. Sobram-me umas bolachas e uma Coca-Cola, que apesar de parecer um pouco forte para tomar logo pela manhã à falta de melhor e pela troca de umas horas de sono é o que servirá.

Felizmente quando me levantei, e porque provavelmente os oficiais chilenos perceberam que muitos de nós não descem para o pequeno-almoço, havia chá que com as bolachas que tenho serviram como um belo pequeno-almoço. Infelizmente tudo continua na mesma. Não se sabe se o avião que vem de Punta Arenas para nos levar vem ou não porque até agora as condições meteorológicas não estão muito favoráveis. Já se sente que todos estamos a começar a ficar fartos de estar ali, não temos nada para fazer, somos estranhos na base e sentimo-nos claramente deslocados. Felizmente que somos muitos e temos aproveitado para nos divertirmos como pudemos e também aprendido, mais uma vez, a lição de que na Antárctida a paciência é uma virtude e que 80% do que se faz está claramente dependente das condições meteorológicas.

Assim, a meio da manhã decidimos ir conhecer a praia da Elefanteira que fica mesmo ao pé da pista de aterragem onde estamos alojados. É um passeio pequeno mas espectacular. Para além de a paisagem ser linda, e muito diferente de Deception, porque tem imensos líquenes e musgos, a praia esta cheia de elefantes marinhos, na sua vida tranquila e pachorrenta que nós aproveitamos para fotografar e filmar.


Depois do passeio e porque era quase hora de almoço decidimos voltar ao Hotel antes de descer ao Casino de Oficiais a ver se haviam novidades. Felizmente o avião já descolou de Punta Arenas e chegará por volta das 13h30. O nosso embarque está previsto para as 14h30 e a descolagem às 15h00. É uma sensação estranha, com um misto de alegria e tristeza. Alegria por sair de Rei Jorge, onde me sinto como estranha, e tristeza por sair da Antárctida. Estou cada vez a afastar-me mais de um dos sítios onde mais gosto de estar, mas enfim a vida é assim, feita de ciclos e por isso este está a encerrar-se. De qualquer modo o desejo e a paixão de voltar no próximo ano continuam. Vamos ver as voltas que a vida dá!

Quando estávamos a subir do Casino de Oficiais para o Hotel, já depois de almoçarmos, ouvimos um enorme barulho e vemos um avião comercial a aterrar. Pior do que o ver a aterrar é imaginar que descolaremos nele dentro de algumas horas. Trata-se de um avião comercial pequeno, que aterra e descola numa pista de terra e gelo onde o seu fim termina exactamente no mar. No início da campanha aterrei aqui num Hércules e vi-o descolar, e devo dizer que é impressionante.


Para que nos possamos abrigar e movimentar dentro do hangar foram retirados um helicóptero e um avião chileno e permanece dentro um enorme helicóptro militar, simplesmente espectacular.


É curioso ver que no avião que chegou de Punta Arenas para além de militares, e investigadores vem também um padre ortodoxo ao que parece para fazer a invernada. Antes mesmo da saída há que fazer uma última fotografia de família na Antárctida e tirar uma foto no poster dos pinguins!


Depois de 3 horas de voo chegámos a Punta Arenas e instalamo-nos no Hotel Diego de Almagro. Um hotel com o qual a UTM espanhola tem convénio e que por isso sai a um bom preço. Depois de um excelente jantar com o Miguel Angél, o Mário, a Rosa, o António, o Amós, o Bismark, o Jesus Galindo e a Imna, foi altura de nos despedirmos do Jesus Galindo, do Bismark e do Amós. Mais uma vez se sente um aperto no coração neste momento de mais uma despedida. Vamos ficando cada vez menos e a campanha Antárctida deste ano vai ficando para trás.

1 comentário:

  1. Não acredito que ninguém tenha comentado antes! Há blogues assim...

    Desconhecia esta região, é a primeira vez que ouvi falar (devia ficar preocupada com a falta de conhecimento?) e o que me levou até aqui foi a palavra-chave Antárctida - a minha viagem de sonho. Não sabia que podia estar "perto" disso no Chile... Infelizmente, um pouco de pesquisa também revelou que em Janeiro deste ano fizeram centenas de turistas reféns em Puerto Natales. Mas parabéns pela viagem e obrigada pelas fotos! Que vontade fiquei de ver um glaciar azul de perto e sentar ao lado de focas! Ai...

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